Este é mais um post que eu deveria incluir numa série chamada “Qualquer dia eu vou para…”, sendo o destino escolhido alguma cidade ou mesmo lugar localizados praticamente embaixo do meu nariz. Mais uma vítima da minha procrastinação turística, Salon-de-Provence é uma cidade de pouco mais de 40 mil habitantes, localizada no Vale da Crau, entre Avignon e Aix-en-Provence e suas respectivas estaçãoes de TGV (trem de grande velocidade), e bem às margens da autoestrada que liga ambas cidades. Ou seja, acesso fácil ao aeroporto Marseille Provence e também uma boa cidade para se hospedar na Provence. Mas, muito além de uma localização privilegiada, Salon-de-Provence abriga uma impressionante riqueza em termos de patrimônio histórico e cultural da região provençal, sem falar que seu coração guarda um importante acervo militar, no maior museu do exército da região : o Château de l’Empéri.
Frequentei a cidade durante praticamente um ano, por motivos profissionais – dois dias por semana de meu estágio de mestrado eram passados na cidade. Mas só fomos visitar mesmo no fim de semana em que aconteceu as Jornadas do Patrimônio : dois dias em que o patrimônio histórico europeu se coloca à disposição dos visitantes, incluindo locais normalmente fechados ao público, como hotéis particulares (grandes casarões localizados nos centros das cidades, que pertenciam à famílias abastadas da aristocracia francesa, nada parecido com o sentido de local para hospedagens que temos hoje), edifícios da administração pública, além de museus, tudo com entrada gratuita e animações previstas para informar e entreter o público de todas as idades.
Nosso passeio foi dividido em dois tempos : primeiro tempo, durante a manhã, visitamos parte do centro histórico, assim como o pátio e jardins do Château de l’Empéri, onde pudemos também presenciar explicações sobre a guarda montada e assistir algumas reconstituições da vida dos soldados no castelo. Todos os monumentos e museus fecharam para almoço entre 12h e 14h, o que nos deu tempo de flanar pelo centro histórico da cidade antes de irmos almoçar. Felizmente, ainda tivemos tempo de visitar o Musée Grévin de Provence, que também fecharia pro almoço, mas acabaram nos deixando entrar antes do fechamento (o museu Grévin infelizmente fechou as portas em 2015).
Château de l’Empéri
Instalação “Disco duplo esvaziado pelos telhados”, de Felice Varini
Construído no século X pelo Arcebispado de Arles, o Château de l’Empéri tem localização geográfica privilegiada : vislumbrando a planície de Crau do alto de sua colina, o castelo oferece um panorama estratégico da região, que foi de grande valia durante os períodos de invasões. O nome Empéri é o provençal para imperador, referindo-se ao período logo após a construção em que a cidade de Salon foi incorporada ao santo império romano germânico. A Provença conta com três grandes fortes, sendo dois deles o Palácio dos Papas em Avignon e o castelo do Rei René em Tarascon, e o Château de l’Empéri é o mais antigo castelo da região provençal. Sempre que chegava em Salon, a torre do castelo era a primeira a entrar no meu campo de visão, e acabou virando ritual quase diário dar uma espiadinha na bandeira tremulando lá no alto.
Quando chegamos para a visita de fato, fiquei me perguntando o que esperar do acervo do museu, uma vez que já tinhamos visitado o Musée de l’Armée em Paris, que tem um acervo impressionante (Bernardo já visitou duas vezes, e acho que não se importaria de voltar em outras ocasiões). Mas em se tratando do segundo acervo de história militar mais importante da França, pode-se esperar muito, e a visita certamente não decepciona, ao contrário. A coleção Raoul e Jean Brunon constitui uma das primeiras coleções militares francesas e pertence ao Musée de l’Armée, e pra quem é interessado em história militar e quer complementar a visita feita em Paris, vale dedicar uma tarde para conferir a coleção do museu em Salon-de-Provence.
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Documento assinado por Napoleão
Sem medo, sem censura
O grande momento da exposição fica por conta do período napoleônico, rico em artefatos e documentos. Grandes momentos da história militar francesa são retratados ao longo da exposição : as campanhas egípcias comandandas por Napoleão, as campanhas no norte da África, finalizando o percurso no período da Primeira Guerra. Pôsteres de recrutamento estão expostos ao lado de armas e armaduras usadas na época. Uma das peças que mais me chamou atenção foi uma metralhadora usada durante a primeira guerra que tem o curioso nome de Saint-Etienne – curioso por tratar-se de nome de santo, mas o nome é atribuído à arma pois ela era fabricada na cidade. Mesmo assim, não deixou de me parecer um tanto paradoxal. A visita dura aproximadamente 1 hora e meia.
Endereço : Montée du Puech, 13300 Salon-de-Provence
Tarifas : 5,50€ (+ 3€ se áudioguia opcional) 8€ tarifa combinada para visitra Château de l’Empéri e Museu Nostradamus.
Horários de funcionamento : baixa temporada (1 de outubro à 15 de abril) 13h30 às 18h, de terça à domingo (fechado nas segundas e em certos feriados), alta temporada (16 de abril a 30 de setembro) 9h30 às 12h, e 14h às 18h (fechado nas segundas e em certos feriados).
Fotos autorizadas sem utilização de flash.
Casa de Nostradamus
A última visita que fizemos foi à excêntrica casa de Nostradamus, não muito longe do castelo, ainda no centro histórico da cidade. Nascido em Saint-Rémy-de-Provence, Michel de Nostredame (Nossa Senhora, na escrita de francês antigo, nome dado ao seu avô ao se converter do judaísmo ao catolicismo) foi médico formado pela mais que bem reputada faculdade de medicina de Montpellier. Curioso e ávido por conhecimento, suas atividades de pesquisa não se restringiram à área médica : astronomia era um dos campos de interesse de Nostradamus, mas não o único. Botânica, poesia, filosofia também integram a lista de atividades intelectuais do médico, que foi um dos grandes combatentes da peste, propondo soluções medicinais saídas direto do jardim. Em comemoração ao quinto centenário de nascimento de Nostradamus foi construído um jardim no pátio do Château de l’Empéri, em 2003, que seria temporário, mas acabou tornando-se permanente, e é dividido em função de suas obras : tem o quadrado das geleias, o quadro do tingimento, e por aí vai.
Parte da casa onde ele viveu em Salon-de-Provence foi transformada em museu, e a visita nos transporta ao século XVI, começando com uma conversa entre Nostradamus, ainda criança, e seu avô. Cada cômodo da casa foi transformado em uma cena que retrata um momento de sua vida : diálogos filosóficos, trabalhos no seu escritório, conversa com Catherine de Médicis. Na escadaria estão dispostos os textos do Centurião, e algumas das ferramentas desenvolvidas por ele também podem ser vistas durante a visita, que tem duranção estimada de 45 minutos. E foi aqui que concluimos nosso passeio na ocasião das Jornadas do Patrimônio, mas uma quarta visita também é possível de ser feita na mesma ocasião, que é a próxima sobre a qual falarei.
Horários de funcionamento : segunda à sexta 9h às 12h e 14h às 18h, sábados e domingos 14h às 18h.
Fotos autorizadas apenas na entrada da casa (estátua de Nostradamus ao lado da bilheteria).
Todas as visitas citadas acima foram feitas durante as Jornadas do Patrimônio, quando a entrada é gratuita.
Base Aérea de Salon-de-Provence : Patrouille de France
Nossa visita à base aérea aconteceu em maio, mas ela pode ser visitada igualmente durante as Jornadas do Patrimônio. Quando fomos à base, o motivo era a comemoração dos 60 anos da Patrouille de France. Mas afinal, o que é a Patrouille ? Quem já assistiu algum desfile do 14 de julho em Paris, seja pela tv ou ao vivo, já deve ter reparado nos aviões que sobrevoam a avenue des Champs-Elysées soltando fumaça com as cores da bandeira francesa : pois bem, eles são integrantes da Patrouille de France, a esquadrilha da fumaça francesa. E a base aérea fica aqui do ladinho. E durante todo meu ano de estágio, assisti de camarote os ensaios da Patrouille, com direito à coração no céu, fumaça colorida e formações aéreas impressionantes.
Em maio, foi organizada uma grande festa para comemorar os 60 anos de atividades da Patrouille, com a presença de outras esquadrilhas europeias : belgas, italianos, suíços, ingleses e espanhois estiveram presentes, colorindo os céus da Provença e garantindo uma comemoração espetacular, durante dois dias, sendo que o primeiro era exclusivo para convidados, mas foi transmitido pela tv. O mais legal da transmissão foram os bastidores, o momento em que os pilotos se preparam antes de entrarem em seus aviões para realizar as manobras. Numa sala, encontram-se os 9 pilotos sentados. De repente, eles começam a ensaiar todos os movimentos que serão feitos nos aviões, usando apenas as mãos. De olhos fechados, e com uma sincronia impressionante, digna dos melhores balés. A cada ordem do líder, uma manobra é realizada. Depois de terminado o ensaio, os pilotos ganham suas aeronaves, e o show continua. No dia seguinte, fomos assistir ao vivo, na base aérea, a apresentação da Patrouille de France e das demais esquadrilhas, e foi um evento incrível, que registramos em fotos e vídeos. Site da Patrouille de France http://www.patrouilledefrance.fr/
Também não sabia da existência desse museu de cera e assim como vc gostei muito da proposta de ver personagens históricos (retratando cenas históricas), pois ver artistas famosos em cera não é a minha praia… Parece ser bem interessante! Assim como conhecer um pouco do universo de Nostradamus!
Somos da mesma praia, Mi! Também não vejo interesse em estatuas de famosos, acho até um pouco mórbido, sei la. Mas cenas historicas são realmente interessantes, é uma boa abordagem. E recomendo bastante a visita à casa de Nostradamus, o lugar é surpreendente!
Luiz Ferreira
Nao saia que existia um museu Grevin alem do de Paris. Novidade !
Natalia Itabayana
Oi Luiz!
Ainda não conheço o Grévin de Paris, mas a visita do provençal me deixou curiosa com relação ao parisiense!
Milena F.
Também não sabia da existência desse museu de cera e assim como vc gostei muito da proposta de ver personagens históricos (retratando cenas históricas), pois ver artistas famosos em cera não é a minha praia… Parece ser bem interessante!
Assim como conhecer um pouco do universo de Nostradamus!
Natalia Itabayana
Somos da mesma praia, Mi! Também não vejo interesse em estatuas de famosos, acho até um pouco mórbido, sei la. Mas cenas historicas são realmente interessantes, é uma boa abordagem. E recomendo bastante a visita à casa de Nostradamus, o lugar é surpreendente!