Por que eu blogo?

postado em: Vida na França | 10
Mais de um mês depois da última publicação, me vejo novamente disponível pra escrever, mas face à um dilema: sobre o que escrever, ou sobre qual lugar escrever? Minha ausência foi motivada por uma necessidade de isolamento pra redigir meus trabalhos de conclusão de uma formação puxada, exaustiva, e que me mobilizou a aprender francês, a me deslocar mais de 60km por dia pra aulas, cerca de até 120km pra estágios, a passar por momentos de gagueira, de angústia, de crises. E isso porque escolhi trabalhar com pessoas. E é por isso também que blogo. 
Blogo pra pessoas, e não pra números, estes últimos são facilmente interpretados de maneira a nos favorecer na maior parte do tempo. As pessoas, estas, são volúveis, difíceis de agradar, nos colocam em posições de questionamento crítico em permanência, nos lançam desafios, testam nossos limites, e nos fazem rever nossas convicções. As pessoas são imprevisíveis, e essa é a magia de trabalhar com elas. É no imprevisível que acontecem coisas fascinantes. O imprevisível faz brotar lágrimas de alegria nos olhos, como quando ouvimos de uma mãe que seu filho está cada vez melhor, aquele mesmo garotinho que meses antes a deixava inquieta. Não fazemos mágica, mas é à partir do imprevisível que podemos clinicar, porque as pessoas nos oferecem essa possibilidade, e é a forma com que as pessoas respondem aos imprevistos que as torna tão mais fascinantes que os números. 
Admito que foram os números que me levaram a blogar: mais de dez mil quilômetros separando da família e dos amigos, e algumas horas de diferença de fuso horário, além da vontade de compartilhar com essas pessoas queridas o que estamos vivendo por aqui, por um lado pra tentar tranquiliza-los e dizer que “estamos bem, somos felizes, apesar do oceano entre nós e de todos os contratempos e pedras no caminho”, e por outro lado pra tentar despertar neles a vontade de vir descobrir com a gente esse pedaço da França que nos encanta em permanência. 
Mas este espaço não é exclusivamente acessado por essas pessoas que me motivaram inicialmente. Muitas delas ainda lêem o que aqui compartilho, raramente deixam comentários porque nos falamos constantemente e os comentários são feitos por telefone ou skype/hangout, mas a ponte foi construída e está se solidificando, e acabou aproximando outras pessoas com quem o contato estava quase perdido, sem falar em outras tantas que não teria oportunidade de conhecer não fosse através deste espaço. Muitas das pessoas que me lêem chegam aqui porque estão procurando informações sobre a região onde moro, e tenho enorme prazer em compartilhar essas informações, em mostrar um pouco mais dessa região que encanta muitos, que atrai cada vez mais pessoas interessadas em descobrir a França além de Paris. 
A capital é linda, isso é indescutível, mas o país tem cantinhos igualmente encantadores, uma riqueza natural de tirar o fôlego, gastronomia de dar água na boca, arte e história em cada pedrinha dos edifícios e monumentos encontrados no menor dos vilarejos franceses. E a recompensa vem quando uma cidadezinha foi incluída no roteiro depois de ter lido sobre ela aqui no blog. Pessoas que querem aprender o idioma francês, conhecer livros e filmes, ou que querem vir estudar aqui, e até quem queira uma receita diferente pra mudar um pouco a refeição de todo dia. 
Eu blogo pra pessoas. São as pessoas que me lêem, e não os números.
“Quem viu Paris, mas não viu Cassis, nada viu” – Frédéric Mistral, poeta provençal e prêmio Nobel de literatura

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