Viajar leve e sem carrinho com bebê: missão impossível?

 

Tivessem me dito isso uns anos atrás, eu certamente responderia afirmativamente à pergunta, mas depois de ter passado recentemente pela experiência digo que sim, é possível. Há uns quatro anos deixamos de despachar bagagem durante as viagens e não vou mentir que o início do exercício de desapego foi difícil, mas a cada nova arrumação de malas (e consequente desarrumação ao retornar pra casa), percebi o quanto isso é libertador em vários aspectos, sendo a praticidade o principal. Carregamos aquilo que realmente precisamos, não temos tempo de espera pela mala nem o estresse da possibilidade do extravio – e foi esse o principal motivo que me fez adotar a prática, quando fomos passar nosso primeiro natal no Brasil, quatro anos atrás.

Um casal de amigos, durante dois anos consecutivos, viveu o pesadelo de todo viajante quando desembarcou pro natal no Rio sem as malas, cheias de presentes pros familiares e amigos, além dos seus próprios pertences. Isso foi o suficiente pra eu decretar que, quando fôssemos ao Brasil pro natal, iríamos levar apenas bagagem de cabine, e os presentes teriam que caber nela junto com  nossos pertences. Depois de um tempo viajando em companhia aérea low cost a gente aprende a levar o mínimo necessário em uma bagagem com dimensões para cabine, pouco importa a duração da viagem – poucos dias ou algumas semanas. Minha primeira viagem no estilo durou cerca de uma semana, e lembro que sofri muito pra tentar fazer todo meu guarda-roupas e sapateiro dentro de uma mochila pequena. Hoje acho graça disso, mas na época eu até cogitei pagar pra despachar, até ver que o preço seria superior ao valor do bilhete. Daí, desencanei.

Ainda assim, levei um monte de tralha desnecessária, um monte de sapato completamente anti-andanças: conhecer alguém que leva salto pra visitar três países, sendo que a maior parte do dia vai andar horrores e ainda tem uma lesão recente no joelho? Prazer, eu levei. Por sorte, o joelho hoje vai bem, obrigada, e os sapatos em questão foram doados há algum tempo, quando comecei a estagiar com crianças. Sapatos baixos e tênis viraram meus melhores amigos, minha sapateira e guarda-roupas tiveram uma redução significativa ao longo desses anos, e ainda há muito desapego a praticar. Mas o foco é viagem leve E com bebê E sem carrinho. Disse que o cachorro foi também? Então, acrescenta  o cachorro na equação. O trajeto foi feito majoritariamente de trem, ou seja, transportes públicos foram usados grande parte do tempo. Com bebê. E cachorro. E duas mochilas. Ponto. Ah, o bebê era carregado no canguru.

 

 

Eu ouvi de um tudo por conta desse canguru, desde antes dele nascer até hoje, quando ele tem 7 meses e meio e pesa 8,4kg. Escolhi um canguru bem tilelê, desses tecidos compridos trançados em estilo africano e que tem umas dez opções de nó (eu sei fazer uns quatro e to feliz com isso). Tão feliz que por um momento cogitei vender o carrinho, mas resolvi dar a ele a utilidade pra qual foi comprado: voltei a correr e levo bebê junto. E na nossa primeira viagem com o Victor não levamos carrinho, só usamos o sling, mas havia um carrinho à disposição caso precisássemos – o que não aconteceu, os passeios funcionaram bem com ele no sling. Mas essa primeira viagem teve um ritmo tranquilo, diferente da segunda, quando ficamos 9 dias perambulando pela Normandia, viajando de trem. Ali sim, pusemos à prova nosso estilo de viagem leve (claro, nossas mochilas nem de longe chegam ao tamanho compacto da bagagem da Camila Navarro do blog Viaggiando, musa inspiradora do desapego material no quesito bagagem).
A parte sa bagagem foi bem tranquila de gerenciar: mesmo viajando no fim do inverno, e pra uma região um pouco mais fria que onde moramos, levamos o necessário pra nós e foi suficiente, e a mala do Victor foi mais cheia pois ainda tinha o pacote de fraldas, toalha e roupas extra, mas muitas voltaram sem ter sido usadas. Levamos um macacão bem quente pra ele usar no sling, e uma capa corta vento quentinha que também proteje da chuva pra colocar por cima (mas esquecemos no trem, fuén fuén). Ele não ficou o tempo todo no sling, mas grande parte do tempo que era carregado ele dormia, e quando acordava a gente fazia pausa pra ele mamar, se esticar, brincar um pouco. Acho que funcionou muito bem essa dinâmica das mochilas + sling, pois ficamos com as mãos livres e pudemos sair tranquilos com ele e a Luna, como faço todas as manhãs, e ainda não precisamos nos preocupar com o carrinho no trem e nos outros transportes públicos. E as costas? Essa foi uma pergunta que ouvi muito, e digo: não doi, o peso é bem dividido quando a amarração é feita corretamente, é quase como carregar uma mochila na barriga, estamos bem acostumados e eu inclusive faço caminhada com ele no sling, num ritmo moderado. Que venham as próximas viagens de mochila e bebê amarrado no colo ou costas do pai ou da mãe!

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