Uma foto. Foi isso que me fez incluir Cinque Terre na lista de destinos de 2014. A foto em questão pode ser vista neste link e o autor é Eduardo Dias Gontijo, que foi meu professor de ética na universidade e cujo trabalho em fotografia representa um olhar em constante busca de conhecimento e aperfeiçoamento, e transmite uma sensibilidade singular. Além da foto, o fato de o lugar ser belissímo, não ser longe daqui e ter ótimas opções de trilhas contou muitos pontos pra gente definir a viagem da semana de páscoa, época propícia porque o calor não nos atrapalharia ao longo das caminhadas.
Percorrendo as Cinque Terre pelas trilhas
Porque o foco da nossa parada em Cinque Terre foi exatamente explorar os cinco vilarejos à pé, usando o trem apenas para sair de La Spezia, onde fizemos base, e ir até o destino de onde começaríamos a trilha. Consultei o site do Parque pra estudar o percurso das trilhas, sabendo que o caminho pela beira-mar está fechado entre Vernazza e Riomaggiore, sendo aberto apenas entre Monterosso al mare e Vernazza, e é necessário pagar uma taxa de 6 euros por pessoa pra ter acesso ao caminho. Como nossa ideia desde o planejamento da viagem era percorrer as trilhas pelas montanhas, dispensamos o caminho azul e optamos pelo caminho das montanhas.
Dia 1: Trilha de Monterosso al mare até Vernazza
Chegamos em Monterosso al mare no domingo, no início da tarde, e o tempo nublado não nos desencorajou nem nos fez abandonar nosso projeto de trilha. A cidade é escolhida por muita gente como ponto de hospedagem, tem uma praia deliciosa, mas optamos por ficar em La Spezia pois ainda não estava muito quente pra praia. Percorremos a beira-mar da estação de trem até o centro da cidade, e depois continuamos, até chegarmos no início da trilha azul, e poucos metros de caminhada mais tarde descobrimos que o acesso à trilha é pago, e que o percurso é todo feito pelo litoral. Lindo, com certeza, mas o grande número de pessoas no caminho nos desanimou, e as montanhas eram nosso objetivo inicial. Assim, passamos no centro de informações turísticas de Monterosso al mare e pegamos um mapinha das trilhas, que são muito bem sinalizadas.
Começamos a percorrer a trilha pouco depois das 16h, e pouco depois do nosso piquenique de chegada. Anuncio de antemão que nenhuma dica de restaurante em Cinque Terre será compartilhada neste post, pelo simples fato de que fizemos piquenique todos os dias que estivemos nos vilarejos, era mais prático e escolhemos os melhores lugares! Voltando à trilha, o horário pra iniciar pode parecer tarde, mas como o sol se põe depois das 20h nessa época do ano, e considerando que o tempo previsto pra percorrermos a distância de 6,7km da trilha indicada no site do parque entre os dois vilarejos pela trilha escolhida era de 3h30 horas, decidimos encarar o percurso.
Chegada em Monterosso al mare
Monterosso al mare vista do alto da trilha pra Vernazza
Depois da parada pro piquenique e da ida ao centro de informações turísticas, começamos o longo caminho morro acima. A principal vantagem do caminho escolhido é a vista que ele proporciona, além do trajeto ser praticamente todo dentro da mata do parque. Subimos, subimos, e quando achamos que já estava na hora de descer, mais uma subida se revelava diante de nós. Assim, subimos durante um bocado de tempo, até chegarmos numa estrada. Segundo o mapa, deveríamos atravessá-la e continuar a trilha. Mas, ou eu pulei essa informação, ou não achei a trilha, pouco importa, a estrada não foi atravessada, e seguimos por ela até encontrarmos uma pousada, onde pedi pra moça pra indicar no meu mapa o ponto exato onde nos encontrávamos.
Preciso confessar: sou péssima em leitura de mapas. Do mesmo jeito que sou péssima pra lidar com Google Maps como GPS. Sou dessas que vira o mapa ou celular pra deixá-lo na exata posição onde me encontro. Tenho senso de direção relativamente bom, mas a leitura de mapas ainda deixa muito a desejar. Isto posto, e depois da gentil ajuda da moça da pousada, retomamos nosso caminho, até que chegamos no ponto onde deveríamos ter chegado 3km antes: o Santuário de Soviore. Nele funciona um restaurante, há uma loja de lembrancinhas, banheiros e, claro, o Santuário em sim, essa igrejinha da foto abaixo, onde entramos rapidamente, pois qualquer minuto dali pra frente era precioso pra garantir nossa chegada em Vernazza ainda sob a luz do sol.
Santuário de Soviore
No exato momento que chegamos no banquinho da foto acima, a vontade era de esticar as pernas e montar acampamento por ali. Mas não tínhamos equipamento de acampamento, tampouco nos demos ao luxo de descansar os pezinhos, faltando tão pouco pro nosso destino. O banquinho foi um marco no caminho: o ponto mais bonito da trilha, com uma vista livre de construções pro mediterrâneo, e nada mais. Quem diria que a adolescente rato de shopping que fui procuraria sossego no meio do mato. Paramos pra contemplar a vista, recuperar o fôlego e prosseguir a caminhada, que a partir daquele ponto começou a nos levar morro abaixo. Quando chegamos na igrejinha de Madonna di Reggio já havíamos avistado Vernazza no pé do morro, e minha preocupação em chegar no vilarejo depois do pôr do sol deixou de existir. Chegamos em tempo de ver os últimos raios iluminarem os vinhedos dos terraços da colina à beira-mar, e de contemplar o porto de Vernazza. Depois de um rápido passeio pelas ruelas do vilarejo, tratamos de pegar o trem de volta pra La Spezia, pois o dia seguinte prometia mais uma bela trilha.
O tempo no nosso segundo dia em Cinque Terre não foi dos melhores: amanheceu bastante nublado, e a previsão anunciava chuva no início da tarde. Nem por isso desistimos da trilha, que desta vez começou em Vernazza e seguiu até Corniglia. Lá fomos nós, morro acima novamente, vendo o vilarejo se afastar aos poucos aos nossos pés, e passando pelos belos vinhedos da região. A trilha nos levou a San Bernardino, um minúsculo vilarejo no alto da montanha de onde avistamos Corniglia, e lá fomos orientados a seguir pela estrada, pois o caminho pedestre estava fechado. Naquele momento, tive certeza de que dirigir na região seria um exercício de paciência e muito equilíbrio pra mim: o zigue-zague das estradinhas é constante. Não demoramos a percorrer a distância entre San Bernardino e Corniglia, e aproveitamos o mercadinho ainda aberto pra comprar nosso piquenique, que degustamos num pequeno mirante da cidade, estrategicamente diante do mar.
Vista do local escolhido pro piquenique (e não fomos os únicos a fazê-lo por ali!)
Depois de devidamente alimentados e de termos percorrido as charmosas ruelas de Corniglia, continuamos nossa andança em direção a Manarola, e no caminho encontramos um pai e seu filho de cerca de cinco anos que estavam seguindo a mesma trilha. O garotinho é muito bravo, como dizem os italianos, pois a trilha tem trechos de muita subida, e o pai estava caminhando calmamente no ritmo do filho. Cruzamos outros andarilhos no caminho, atravessamos mais um vilarejo nas montanhas, Volastra, onde a chuva nos alcançou. Dali até Manarola as gotinhas foram companhia constante e incessante, mas ao invés de tirar o charme do vilarejo, o céu nublado acrescentou um certo ar dramático ao local, que visto da trilha de beira mar, arranca suspiros e posa pros cliques de turistas vindos do mundo todo, que não hesitaram – como eu – em encarar a chuvinha e registrar a beleza da paisagem.
Como chovia, preferimos deixar o trecho entre Manarola e Riomaggiore pro dia seguinte, já que a previsão do tempo era boa. Assim, voltamos pro hotel antes mesmo de anoitecer, e aproveitamos pra esticar as pernas, que pediam um pouco de descanso depois de mais 10km de caminhada, isso sem contar o trajeto entre hotel e estação de trem em La Spezia.
Dona Maricota esperando um empurrãozinho pra subir o degrau alto!
Dia 2: Vernazza, Corniglia e Manarola
Dia 3: Trilha de Manarola até Riomaggiore
O terceiro e último dia de trilha em Cinque Terre nasceu sorrindo pra gente: o sol deu o ar da graça tão logo entramos no trem. O destino seria Manarola, e sai correndo da estação pra garantir um novo clique da cidadezinha sob o sol. Mas o melhor horário pra isso não é a parte da manhã, e sim o período da tarde, quando o sol ilumina a frente das fachadas das casinhas. Fiz a foto mesmo assim, e seguimos logo pro último trecho da nossa travessia das Cinque Terre, a trilha entre Manarola e Riomaggiore, que tinha duração de apenas 1h, excelente se comparada com as 3h30 de cada um dos dois dias anteriores. Mas o tempo curto não indica que a trilha seja fácil, basta ver a foto abaixo que mostra o início do trajeto saindo de Manarola. As escadinhas dão lugar a degraus naturais mais acima, mas os 30 primeiros minutos de caminhada consistem numa forte subida, e minha desculpa pra fazer as panturilhas pararem de queimar era fazer uma pausa pra fotografar, a cada meio metro subido.
Veja bem: correr 21km não é fácil, mas subir 150m com inclinação absurda, depois de 20km de trilha nos dias anteriores, fez músculos que eu nem sabia que existiam queimarem. Juro que considerei seriamente a hipótese de me entregar à lei da gravidade e rolar morro abaixo, pouco importando a direção. E quando vimos um grupo sentado no alto da trilha ficamos aliviados, pois dali pra frente era só morro abaixo, e foi exatamente a resposta que demos a eles, que caminhavam de Riomaggiore e Manarola e estavam recuperando o fôlego. Escolhemos uma sombra e fizemos nosso tradicional piquenique, contemplando um dos mais belos cartões postais onde já estivemos. Com a fome apaziguada, retomamos a caminhada morro abaixo, descendo inúmeros degraus até chegar à estrada na entrada de Riomaggiore.
Quem disse que “pra baixo, todo santo ajuda” com certeza não desceu essa trilha. Nada mais chato que descer uma infinidade de degraus tentando garantir o equilíbrio entre vinhedos e pedras e ignorando um joelho que inventa de doer nos 500 metros finais da caminhada. Naquele ponto, eu quase me joguei escada abaixo, só pra evitar a fadiga. Quando chegamos no centro do vilarejo, descansamos um pouco antes de voltar à Monterosso e Manarola, pra garantir fotinhos mais coloridas e ensolaradas. E por falar em sol, já que ele estava brilhando, ignorei a temperatura da água e dei umas braçadinhas no mar ligúrio. Porque mineiro não pode ver mar!
Estávamos no trem indo para Monterosso al mare, no nosso último dia em Cinque Terre, quando entra uma família italiana, três garotinhos, pai e mãe. Dois dos garotinhos se assentaram, enquanto o maior ficou ao lado do pai, que estava com o carrinho no espaço entre os vagões. Quando o trem para e anuncia a estação “Monterosso al mare” o garotinho começou a vibrar, repetindo o nome do vilarejo. Sorrimos, eu e Bernardo, e o pai nos sorriu de volta, dizendo: “é a primeira vez que eles vem aqui”.
Início da trilha para Riomaggiore
A estação de trem de Manarola vista do alto da trilha
Vista do lugar escolhido pro piquenique
Último piquenique em Cinque Terre
Chegando em Riomaggiore depois de descer tudo isso
Riomaggiore: o riozinho que deságua nesse ponto é quem dá nome ao vilarejo
Foto de família
Dia 3: Manarola e Riomaggiore
Manarola
Vernazza vista de Monterosso al mare
Corniglia vista de Monterosso al mare
Manarola vista de Monterosso al mare
Praia de Monterosso al mare
A água devia estar a uns míseros 15°. Mas mineira que sou, não resisto ao mar.
Castelo de Monterosso al mare, Cinque Terre
Informações práticas sobre Cinque Terre:
Os vilarejos são interligados por trem, que passa com grande frequência. O bilhete entre La Spezia e Monterosso al mare custa 5,20€ e pode ser adquirido na estação de embarque nos caixas ou terminais de autoatendimento. É necessário validar o bilhete antes de embarcar, e guardá-lo consigo ao longo de todo o trajeto. O bilhete é válido por uma hora a contar da validação. Todos os cartões de crédito são aceitos para o pagamento.
Somente a trilha azul (sentiero azzuro) no Parque das Cinque Terre é paga, e o único trecho aberto é entre Monterosso al mare e Vernazza. Os demais trechos estão fechados por conta dos delizes de terra que aconteceram em 2011, quando a região foi assolada por uma grande enchente.
Existe a opção de percorrer os vilarejos de barco no estilo hop-on hop-off, e pode ser uma excelente opção pra quem quer poupar as pernas mas não abre mão de vistas espetaculares. Com certeza é um passeio que faremos quando voltarmos. A Helô Righetto conta tudo sobre os transportes em Cinque Terre neste post do Aprendiz de Viajante.
As inclinações das trilhas são dantescas em determinados pontos: 800m de desnível enche a sacolinha mesmo quando somos ativos, então vale se preparar bem, levar bastante água – pois não há comércio em todos os pontos do caminho, a exceção de San Bernardino e Volastra, mas quem optar por trilhas que não passem nesses vilarejos deve prever uma mochila bem preparada.
O lugar é muito úmido, então vale evitar esse tipo de trilha longa durante o verão, pois pode ser bem puxado. Primavera e outono são épocas excelentes, no verão vale optar pelo trem ou barco.
Não comemos em restaurantes nos vilarejos, mas são muitas opções em cada um deles. O comércio geralmente fecha no horário de almoço, quem optar pelo piquenique vale se programar pra passar no mercado antes desse horário.
Cinque Terre é um destino pra todas as idades e estilos de viagem. Entretanto, alguns trechos da trilha azul são inclinados e a acessibilidade fica prejudicada.
Natalia! A minha vida agora é que está voltando ao normal… com mais 8 criaturinhas aqui para cuidar 🙂 Ainda penso como foi pena eu não ter passado mais tempo com vocês! Mas é bom saber que vamos nos reencontrar em Outubro. E com a calma restabelecida, li este teu post lindo! que delícia! que lugar! Que fotos! Parabéns. Beijinhos para vocês 3!
Apesar de ter sido um curto encontro, foi extremamente agradavel, e ficamos muito encantados em conhecer você 🙂 Agora é contagem regressiva pro encontro de outubro!
Fiz o trecho de Corniglia à Manarola. Chovia quase o tempo todo, foi cansativo, muitos degraus pra subir, muitos pra descer (o que pode ser pior), mas foi uma das melhores experiências da minha vida. As vistas são de arrepiar.
Olá, tenho um blog de viagem e fui para Cinque Terre recentemente e achei válido falar das trilhas, apesar de não te-las feito, seu relato foi completo e ótimo, então citei lá no meu cantinho… Se quiser dar uma olhada http://isynaestrada.blogspot.it/
Olá! Tenho uma dúvida de logística. Eu e minha mulher estaremos em Saint-Saturnin-lès-Apt no próximo julho e de lá vamos para La Spezia para continuar a viagem, sem voltar para a França.
Qual o melhor jeito de fazer esse trajeto? Obrigado pelo post!
[…] as vistas. Valeu a pena porque era nossa única opção, mas não recomendamos não. Talvez Cinque Terre (que fica bem mais pertinho de Florença) seja uma melhor opção no […]
Marta FG
Lindo post! Adorei as fotos…Voltarei aqui certamente quando planear esta viagem que já está nos meus planos há já um tempinho. Bjs
http://www.viajarso.blogspot.com
Jodrian Freitas
Fantástico. Uma excelente maneira de conhecer essa região tão bela. Anotado !
Ah…e as fotos estão maravilhosas.
Grande abraço
Natalia Itabayana
Ei Marta!
O destino é encantador, vale à pena realizar o projeto!
Natalia Itabayana
Ei Jodrian! O esforço é sempre recompensado no fim da trilha! E quando acordamos sem trilha no dia seguinte, senti muita falta!
Obrigada!
Boia Paulista
Oi, Nati. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie – Boia
Natalia Itabayana
Oi Natalie!!
Obrigada pela escolha!!
Rita Branco
Natalia! A minha vida agora é que está voltando ao normal… com mais 8 criaturinhas aqui para cuidar 🙂
Ainda penso como foi pena eu não ter passado mais tempo com vocês! Mas é bom saber que vamos nos reencontrar em Outubro.
E com a calma restabelecida, li este teu post lindo! que delícia! que lugar! Que fotos! Parabéns.
Beijinhos para vocês 3!
Vera
Nunca tinha ouvido falar deste pedaço de terra (!!) mas desde as tuas fotos no instagram fiquei com muita vontade de conhecer!
Natalia Itabayana
Este é um canto da Italia que vale muito a visita, adoramos e contamos voltar!
Natalia Itabayana
Apesar de ter sido um curto encontro, foi extremamente agradavel, e ficamos muito encantados em conhecer você 🙂
Agora é contagem regressiva pro encontro de outubro!
Ronaldo Zanchetta
Fiz o trecho de Corniglia à Manarola. Chovia quase o tempo todo, foi cansativo, muitos degraus pra subir, muitos pra descer (o que pode ser pior), mas foi uma das melhores experiências da minha vida. As vistas são de arrepiar.
Louisy Spak
Olá, tenho um blog de viagem e fui para Cinque Terre recentemente e achei válido falar das trilhas, apesar de não te-las feito, seu relato foi completo e ótimo, então citei lá no meu cantinho… Se quiser dar uma olhada http://isynaestrada.blogspot.it/
Beijinhos!
Davi
Olá!
Tenho uma dúvida de logística. Eu e minha mulher estaremos em Saint-Saturnin-lès-Apt no próximo julho e de lá vamos para La Spezia para continuar a viagem, sem voltar para a França.
Qual o melhor jeito de fazer esse trajeto?
Obrigado pelo post!
Natalia Itabayana
Ei Davi!
Pela autoestrada A8 direção Nice você segue viagem pra Itália!
Roteiro: 15 dias na Itália (Roma, Florença, Toscana e mais)
[…] as vistas. Valeu a pena porque era nossa única opção, mas não recomendamos não. Talvez Cinque Terre (que fica bem mais pertinho de Florença) seja uma melhor opção no […]