Brincando de Ícaro

postado em: Vaucluse, Vida na França | 5
Português/Français
E num belo e ensolarado domingo de primavera, que calhou ser dia das mães no Brasil, resolvemos presenteá-las, de longe, de uma maneira um tanto inusitada. Antes de entrar em detalhes, um pequeno parêntese sobre as divergências entre os calendários francês e brasileiro. Dia das mães na França é data definida por lei de 1950, celebração oficializada pelo ministério da Saúde até 2004, quando foi delegada ao ministério encarregado da família (sim, tem isso na França), e acontece geralmente no primeiro domingo do mês de maio, salvo se esse domingo coincide com a festa de pentecostes; neste caso, o dia das mães é celebrado no último domingo de junho, enquanto na terra brasilis a celebração geralmente acontece no segundo domingo do mês de maio. Isto posto, prossigo com a contextualização do nosso inusitado presente.
Desde meados do verão passado (outro parêntese, desta vez pra explicar o uso de estações ao invés de meses: aqui se faz assim, as estações, historicamente, definem o ritmo de vida, passando pela agricultura e chegando à organização doméstica, e são mais marcantes que a divisão do ano em meses. Por isso o ano letivo começa em setembro, porque é no fim do verão) estávamos nos programando pra este momento, mas alguns contratempos se interpuseram em nossos planos, que foram adiados inúmeras vezes, até que finalmente conseguimos fixar a data para o dia 8 de maio. O acontecimento em questão? Um voo de parapente, nada de outro mundo mas que, se fosse comunicado com antecedência às mães nossas de cada estripulia no Brasil, causaria mais estresse do que o necessário (mães estão constantemente no modo “stress ON” , não importa se temos 3 meses ou 30 anos). Antes de chegar ao lugar do voo, vale situar o lugar onde este se passou, que é a real razão de ser deste post.
Château de Lourmarin

Rustrel é um vilarejo de pouco mais de 700 habitantes localizado à cerca de 65 km ao norte de Aix-en-Provence e o caminho até ele é cheio de belas paisagens, ladeado pelos vinhedos que produzem os Côteaux d’Aix-en-Provence, mas também a represa de Saint Christophe, nos arredores de La Roque d’Anthéron, sem falar no Château de Lourmarin, na charmosa cidade de mesmo nome, e onde paramos na ida pra ver de perto o château (estava fechado pro almoço, não deu pra visitarmos, mas fica a dica) e na volta pra lanchar. A cidadezinha tem todo aquele charme provençal, de construções em vários tons de ocre, muitos vasos de flores nas janelas pintadas em tons de azul, vermelho ou de branco, bistrôs simpáticos com mesinhas nos terraços e muito vinho rosé nas taças dos clientes, o que lhe valeu o título de um dos “plus beaux villages de France” (mais belos vilarejos da França). O vinho rosé é um símbolo da região, é aquele frescor que o verão traz pra gente, aquele momento convivial de sentar ao sol e jogar conversa fora.

Seguindo viagem, chegamos à Rustrel e fomos direto à sua atração turística : a antiga extração de ocre do lugar ficou hoje conhecida como Colorado Provençal e é uma impressionante variação de tons que vão do areia mais claro ao laranja tijolo, que fazem um contraste deslumbrante com o azul do céu provençal. A dica importante : uso filtro solar, fator 50 de preferência, chapéu, óculos escuros e muita água, pois você vai adentrar no Saara francês, literalmente falando. Um dos pontos da trilha leva o nome do imenso deserto graças ao tom claro do ocre, e na época que fomos, meio da primavera, já fazia bastante calor. Alguns passos depois, chegamos a um lugar fresquinho, uma cascatinha que foi formada pelo curso d’água usado pra extração, e que fica no meio de um bosque, uma pausa sombra no passeio quente.

Depois de conhecer esta marca que o homem imprimiu na natureza, chegou a hora de brincar de ser passarinho. Bernardo foi primeiro, e fiquei no campo de pouso esperando, e fotografando à medida que era possível. Num momento de distração, enquanto fotografava uma joaninha, já não vi mais o parapente, e pensei que talvez eles tinham ido pro outro lado da colina. Um minuto depois do clique do simpático insetinho, Bernardo liga, e achei que estivesse falando lá do alto, mas era pra avisar que tinham perdido altitude e tiveram de pousar numa pista qualquer, mas que tava tudo bem, estavam tirando o parapente da árvore. Se ele disse que tudo estava bem, continuei fotografando joaninhas e fiquei esperando chegarem, em breve seria minha vez.

Quando enfim chegou minha vez, porque depois do Bernardo ainda tive de esperar outra pessoa, o coração começou a acelerar no trajeto até o ponto de decolagem, mais pela forma bem desgovernada que o instrutor dirigia do que pelo voo em si. No caminho do carro até a beira da colina não deu tempo de pensar no nervosismo, porque o instrutor mostrava que “ali ficava um pastoreio, isso há uns 200 anos atrás”, e desta forma não dava tempo pra pensar em nada, era só admirar a paisagem mesmo. Chegando no ponto, fui devidamente equipada, e ele me deu a seguinte instrução: “Ta vendo aquele descampado ali na frente? Quando eu disser pra correr, é pra ele que você tem que correr.” O descampado em questão ficava bastante longe, mas era um ponto de referência excelente pros olhos não fixarem os pés no momento do voo. E quando ele falou pra eu correr, dei dois passos e no terceiro já não tinha mais o chão sob meus pés. Era a Provence vista do alto.
O voo durou uns 40 minutos, que passaram tão rápido que nem deu pra pensar em nada, só mesmo apreciar a vista do Colorado Provençal, dos Alpilles e do Mont Ventoux, ponto mais alto da região. E ainda ver o sol baixar, já que eram mais de 19 horas quando finalmente fui fazer minha experiência de passarinho, e a luz estava magnífica. Bernardo tinha me chamado atenção pra um detalhe a respeito da luz antes de nos mudarmos pra cá: ele disse que os tons que vemos no por do sol são impressionantes, e neste dia eu pude eternizar esta imagem enquanto voltávamos pra casa. Cézanne bem que tinha à sua disposição uma imensa paleta de cores, uma aquarela pra representar majestosamente o capricho com que a natureza desenhou e pintou a Provence…

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Le Colorado Provençal, Rustrel

La fête des mères au Brésil se fête le deuxième dimanche du mois de mai, et cette fois-ci nous avons décidé de leurs offrir un cadeau un peu hors-norme. Depuis l’été 2010 nous planifions un vol en parapente en Provence, mais il y avait toujours quelque chose qui nous en empêchait: soit le mistral qui soufflait tellement fort qu’on pourrait finir par atterrir au Maroc ou en Islande, soit l’instructeur n’était pas disponible, soit nous étions au Brésil pour notre mariage religieux, soit l’hiver était là et, bon, c’est l’hiver, on part à la montagne. Finalement nous avons réussi à prendre rendez-vous pour le 8 mai, mais évidement nous n’avions pas prévenu nos mères à ce propos, histoire de prévenir des arrêts cardiaque de l’autre côté de l’Atlantique. Le vol était prévu pour la fin de l’après-midi, alors nous sommes partis le matin pour profiter des jolis endroits dans le parcours qui nous menait jusqu’au point du vol, à Rustrel.


Rustrel est un petit village dans le Luberon d’un peu près 700 habitants, situé à 65km au nord d’Aix-en-Provence et nous avons choisi de prendre une jolie route qui passe par les vignobles de Coteaux d’Aix-en-Provence vers La Roque d’Anthéron, puis par Lourmarin, un joli village provençal où l’on voit un beau château qui peut être visité (fermé entre midi et 14 heures). J’adore les villages provençaux, les fenêtres peints en bleu et les façades en ocre, les pots fleuris sur les balcons, un verre de rosé dans un terrasse d’un restaurant charmant, tout cela m’est passionnant.

De retour sur la route après une petite visite à Lourmarin nous sommes arrivés à Rustrel pour visiter son site touristique: une ancienne mine d’ocre qui est connue aujourd’hui comme le “Colorado Provençal” car le paysage rappelle la vallée du fleuve qui donne le nom à l’état du Colorado aux Etats-Unis.  Un petit conseil: mettre de la crème solaire, car même au printemps il fait super chaud et on se croirait au Sahara! Le parcours dans l’ocre nous mène jusqu’à une rivière et une cascade dans les bois, l’endroit parfait pour se reposer et se mettre à l’abri du soleil.

Après avoir visité cette empreinte faite par l’homme dans la nature c’était l’heure de se faire passer par des oiseaux. Bernardo est allé en premier et je les attendait en bas au champs d’atterrissage, et je profitait pour prendre quelques photos ici et là. Finalement je les avait aperçu tout en haut et j’ai réussi a les prendre en photo, et puis je me suis vue avec une coccinelle dans les mains, je l’ai vite prise en photo et quand je surveille le ciel pour les chercher, ils n’y étaient plus. Un moment plus tard mon portable sonne et c’était Bernardo, je croyait qu’il voulait juste me demander si je les voyait, mais non, c’était pour me dire qu’ils avaient dû atterrir avant – plutôt ils ont fait une chute sur un arbre – ils allaient bien et serait de retour au champs d’atterrissage dans peu de temps. J’ai raccroché et me suis remise à photographier des coccinelles, bientôt serait à mon tour de jour de rôle de l’oiseau.

Quand il était enfin à mon tour, car j’ai dû attendre encore une autre personne faire son tour style oiseau, mon coeur a commencer à battre un peu plus rapide que d’habitude, plutôt car l’instructeur roulait tellement vite sur la petite route qui menait au point de décollage que je n’ai pu pas même réfléchir à ce qui j’allait faire.  L’instructeur était tellement sympa en m’expliquant ce qu’il y avait dans le coin avant qui ça ne laisse pas vraiment de place à la peur. Quand on était sur le point de décollage il a attaché tout les trucs qu’il fallait à mes jambes, pieds et taille, ensuite il m’a dit “Tu vois le champ là-bas? Quand je te dirai de courir, c’est là où il faut regarder pour arriver.” Le champ était un point de repérage pour que je ne regarde pas mes pieds, cela peut être effrayant et nous faire arrêter d’un coup et tout gâcher. Alors il a compté jusqu’à trois, j’ai fait deux pas et hop, il y avait plus rien sous mes pieds! Je voyait la Provence du ciel, magique comme ça.

Le vol a duré près de 40 minutes mais le temps passe super vite quand on est là-haut et nous n’avons pas même le temps d’avoir peur ou quoi que ce soit, il suffit d’admirer le paysage: le Colorado Provençal, les Alpilles et le Mont Ventoux sont presque là pour nous émerveiller. En plus j’ai eu la chance de voir le soleil qui allait se coucher car il était déjà 19 heures lorsque nous avons atterris. La lumière était superbe et j’ai finalement pu vérifier une chose que Bernardo m’avait dit avant que nous arrivons en France: il y a tellement de couleurs lorsqu’il s’agit du coucher du soleil qu’on se surprend, c’est magique. Et c’était d’autant plus magique de voir toutes ces couleurs en Provence, la terre de Cézanne, et j’ai vu que la nature lui a inspiré, mais aussi lui a fourni toute une aquarelle pour qu’il puisse la représenter en perfection!

Joaninhas, Bernardo no parapente, campo de pouso
Coccinelles, Bernardo en parapente, champ d’atterrissage
Meu voo e a Provence vista do céu
Mon vol! La Provence vue du ciel

Meu voo
C’est moi!

O pôr-do-sol na Provence
Le coucher du soleil en Provence

5 Responses

  1. Marta

    Aproveitando a sua analogia ("brincando de Ícaro") não posso deixar de dar o meu "pitaco": se você conhece bem a lenda da mitologia, quando Dédalo (o pai) e Ícaro (o filho) fugiram do labirinto do Minotauro, um deles se "empolgou" com o vôo e, desobedecendo as sábias palavras do "outro" DESPENCOU, e quase nem se encontra com Caronte, indo para direto em Tânatos…
    Se Deus quisesse que voássemos, teríamos asas no lugar dos braços…
    Mas o post fico très très très belle !!!

  2. suzana

    Ah ! Que bom que é a vida bem vivida! Fico muito feliz com tudo o que estão aproveitando!!! Esse companheirismo é muito bom! Beijinhos…

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