Forte de Buoux |
O mês de maio é, na minha opinião, o melhor mês da primavera, pois as temperaturas são extremamente agradáveis, os dias são razoavelmente longos e o sol brilha praticamente todos os dias. Além disso, temos 3 feriados no mês (1 de maio, 8 de maio – pelo fim da segunda guerra – e 29 de maio – ascensão de Nossa Senhora), que é bastante propício pra viagens ou escapulidas curtas nos finais de semana. E nos finais de semana ensolarados e sem feriados, as várias opções de trilhas são uma excelente pedida para aproveitar o dia sem sofrer com altas temperaturas e sol forte que bate no verão. E foi essa nossa opção pra curtir um sábado bem ensolarado: um passeio sugerido entre amigos no início da semana, a trilha de 16km no Parque Regional do Luberon, no vilarejo de Buoux, conhecido como o vilarejo do fim do mundo.
Buoux é um pequeno vilarejo localizado a 50km ao noroeste de Aix-en-Provence, nos arredores de Apt, no Parque Regional do Luberon, uma região com rico patrimônio natural e uma vasta opção de passeios à pé e de bicicleta, a melhor forma de explorar a região enquanto as temperaturas são amenas. Um colega do trabalho me falou sobre Buoux e a trilha, e quando ele mencionou o apelido da cidade, “vilarejo do fim do mundo”, não tive dúvidas de que deveria conhecer o lugar o quanto antes! Fui pesquisar e encontrei uma trilha de 16km que começa em Buoux e passa por Sivergues, um vilarejo vizinho, e mencionava pontos de observação das falésias de Buoux e também do Mont Ventoux, o ponto mais alto da Provença, com mais de 1900m de altitude.
Quando vi a extensão da trilha, imaginei que o convite seria imediatamente recusado pela turma, o que felizmente não aconteceu. Pra garantir que chegaríamos sãos e salvos no fim do percurso, corri na livraria e achei o livro ideal pros próximos passeios, um guia com 27 trilhas e mapas dos trajetos no Parque do Luberon, explicando os símbolos que encontramos no caminho, além de indicar o nível de dificuldade (geralmente em função da distância, a trilha escolhida era classificada como “difícil” por ter mais de 10km). Preparamos um belo piquenique, combinamos local e hora de encontro e pegamos estrada em direção ao Luberon, debaixo de um céu absurdamente azul e com temperaturas bem frescas – fazia 15° na estrada, depois de uma semana inteira de muito vento, nuvens e um pouco de chuva.
Chegamos num vilarejo praticamente abandonado, mas trata-se na verdade dos vestígios da antiga colônia de férias que existia no local. Seguimos a indicação “Fort de Buoux” e deixamos o carro no primeiro estacionamento indicado, à esquerda logo depois de uma curva que atravessa uma ponte. Começamos a caminhar por ali, pois a placa da cidade indicava o início da trilha que escolhemos (PR 10 (Promenades et Randonnées 10, sinalização da Federação Francesa de trilhas pedestres). O primeiro vestígio de ocupação humana antiga que encontramos foram as ruínas da foto abaixo, mas não havia qualquer sinalização indicando do que se tratava e de qual período era a construção. O guia informa que a região de Buoux é ocupada desde o paleolítico, ou seja, há mais de 50 mil anos o Homo Sapiens Néanderthalensis ocupava as grutas encontradas nas falésias que vimos ao longo do caminho.
Rio Aiguebrun, único curso d’água permanente do Luberon |
Os primeiros minutos da caminhada foram num trecho sem qualquer sinalização e no meio do bosque, seguindo uma pequena trilha, porque meu instinto Indiana Jones disse que era por ali – saindo do estacionamento, seguimos o curso do rio Aiguebrun e chegamos em outro estacionamento, onde fica o Auberge de Seguins, e o livro indicava que a direção era aquela mesma. Um grupo que vinha na direção contrária confirmou que estávamos realmente na trilha, e poucos passos à frente encontramos a sinalização (um traço vermelho sobre um traço amarelo, geralmente marcados nas árvores e pedras ao longo do trajeto). Na verdade, poderíamos ter seguido até o Auberge pela estradinha, mas se podemos complicar, por que não, né?
Do Auberge até Sivergues, o vilarejo vizinho, foram 50 minutos de caminhada, com inclinação muito suave e com longos trechos na sombra, seguindo o curso do rio durante longo tempo e passando por paredões onde grutas revelavam onde nossos ancestrais habitavam milhares de anos atrás. Os primeiros instantes em Sivergues mostraram um vilarejo deserto, com construções em pedra que representam bem o charme desses cantinhos isolados onde buscamos nos refugiar da correria e agitação. Avistamos a igrejinha e uma praça ao lado, e os poucos carros no estacionamento denunciaram que não estávamos sós, e que o vilarejo não era deserto. Percorremos rapidamente as ruelas e vimos uma família ao redor da mesa cuidadosamente posta no quintal, enquanto o almoço era servido sem pressa, como se deve ser na Provença. Depois de explorarmos o vilarejo, seguimos a trilha, mas não tardou pra eu me dar conta de que estávamos na direção errada e deveríamos voltar. Pra nossa sorte, a distância era curta, e pudemos contemplar nesse pequeno trajeto o belo Mont Ventoux e o vale do Luberon.
Rapidinho encontramos nossa trilha e estávamos novamente ao abrigo do sol. Caminhamos um certo tempo na sombra, até que chegamos num plateau coberto de lavanda! Os florzinhas ainda não desabrocharam, pois a floração só acontece mesmo no mês de julho, e foram as papoulas que se encarregaram de colorir um pouco a paisagem. Percorremos um longo trecho da trilha por uma estradinha asfaltada de onde avistamos novamente o Mont Ventoux, mas desta vez algumas nuvens pairavam sobre o topo, camuflando o branco do calcáreo e deixando pouco evidente a cruz que marca o ponto mais alto do topo da Provença. Decidimos seguir caminhada até encontrarmos um ponto para o piquenique, e escolhemos a capela de Santa Maria, no alto do vilarejo de Buoux, um pouco afastada do centro da cidadezinha, pra estender nossa toalha e fazer uma pausa. Já tínhamos percorrido 12km, podíamos nos dar ao luxo de esticar as pernas e bater papo antes de percorrer os 4km restantes da trilha.
O último ponto de referência e de interesse no percurso era o Château de Buoux, não muito distante de onde fizemos nosso piquenique. O castelo é propriedade privada e não é aberto à visitação, e está sendo restaurado há algum tempo. Chegamos perto para ver, e logo demos meia-volta e continuamos a trilha de volta ao estacionamento. No ponto onde o GPS indicava estar nosso carro, tentamos encontrar um caminho para descer, em vão: somente um paredão e mata se revelou sob nossos pés, nenhuma trilha era visível. Continuamos então no caminho por onde outras pessoas seguiam, caminho que nos levou de volta ao vilarejo de Buoux. Dali, seguimos pela estradinha até o estacionamento, e eu fiquei me perguntando em qual momento viramos errado.
Na verdade, ao chegar ao Château, não deveríamos ter dado meia-volta, e sim caminhado em direção ao castelo, virando à esquerda e novamente à esquerda poucos metros depois, e estaríamos na trilha certinha que nos levaria de volta ao carro. Chegamos sem problemas, seguimos uma trilha que também era balizada, mas o errinho de percurso nos fez andar 1,5km a mais do que estava previsto, acrescentando meia hora ao tempo total da caminhada, que durou 5 horas ao invés das 4h30 previstas inicialmente. A grande vantagem de fazermos esse tipo de passeio na primavera é que, como os dias são bem longos (pôr do sol no dia que fizemos a trilha, 24 de maio, foi depois das 21h), um errinho como esse não vai nos deixar no escuro. Começamos a trilha às 11h, fizemos uma pausa de 2h para o piquenique e às 18h45 estávamos no carro, na estrada de volta pra casa. Quer conhecer os vilarejos mas poupar as pernas? Ambos são acessíveis de carro!
Site (em francês e inglês) onde tirei informações sobre a trilha: www.luberon-apt.fr/index.php/fr/bouger/a-pied/de-buoux-a-sivergues
Livro sobre as trilhas no Parque do Luberon: Le Parc naturel régional du Luberon… à pied. TopoGuides (ISBN 978-2-7514-0639-3), fevereiro de 2013.
O percurso que fizemos. O erro aconteceu entre o km 12 e 13 e nos fez voltar à Buoux, mais atenção na próxima trilha! |
Forte de Buoux visto da trilha. Ele se integra perfeitamente à paisagem e parece fazer parte da falésia. |
Falésias de Buoux |
Forte de Buoux |
Houx, planta típica da flora do Luberon |
Raquel
Nossa, que lugar maravilhoso! Adorei o vilarejo! Otima dica! 🙂
Beijo!
Natalia Itabayana
Ei Raquel!
O passeio surpreendeu positivamente, e voltaremos com certeza! Vale a visita!