O dia começou bem cedo pra nós. Mesmo a noite anterior tendo se prolongado num longo churrasco e prosa sem fim até horas tardias, Cinthia e eu resolvemos programar o despertador pra bem cedo. Não que nosso barco saísse de manhã, mas tínhamos ainda um último compromisso inadiável e imperdível na ilha da beleza. Assistir o sol nascer era nosso último item em comum numa lista de atividades que partilhamos nos dias anteriores. Depois de termos visto o sol de pôr nas águas calmas do mediterrâneo, enquanto o navio nos levava à Bastia, precisávamos vê-lo nascer na linha do horizonte desenhada por essas mesmas águas. Assim começou nossa despedida da Córsega.
Em silêncio, em jejum, deixamos os maridos dormindo e nos dirigimos à praia que ficava a poucos metros da casa onde nos hospedamos. O horizonte começou a clarear, mas chegamos poucos minutos antes de avistarmos o contorno do círculo solar apontar na linha do mar. O céu ganhou primeiro uma tonalidade rosada, que gradativamente passou pra tons mais quentes, até que o sol se mostrasse por completo e começasse a esquentar o dia da nossa partida de volta ao continente. Em silêncio, um tanto maravilhadas com o espetáculo presenciado, um tanto entristecidas com a partida iminente, retornamos à casa, trocando no caminho suspiros de uma estadia inesquecível.
Com calma, voltei pro quarto e comecei a preparar a mala. Acordei Bernardo sem pressa, e fomos tomar café. Tudo sem pressa, porque a intenção era fazer com que cada minuto durasse horas. A intenção era fazer parar o tempo. Sem pressa, carregamos o carro. Limpamos a casa com cuidado, como se fôssemos receber convidados logo mais. Verificamos cada canto pra ter certeza de que nenhum dos nossos pertences ficaria esquecido, com a vontade de esquecer, na verdade, o horáriodo embarque logo mais. Com um aperto no peito, fechamos a casa e pegamos estrada rumo à Île Rousse, de onde sairia nosso barco. Mas no caminho, ainda fizemos uma última parada na rota do vinho.
Rota do vinho de Patrimonio
Entre Bastia e Saint Florent se estende a região vinícola de Patrimonio, uma cidade charmosa pela qual apenas passamos no dia anterior, mas onde fizemos nossa derradeira parada na ilha. O relevo acidentado da região emoldurado pelas águas azuis do mediterrâneo e acariciado pelo vento oeste que sopra com frequência e pelo sol abundante fazem da região um local propício pro cultivo da uva. A vinícola foi escolhida ao azar, e fomos recebidos pelo filho do proprietário, que nos explicou sobre o cultivo na região enquanto degustávamos os diversos tipos de vinho produzidos pela família. Trouxemos duas garrafas, um branco e um tinto, que ainda não ousamos abrir, mas que muito nos apeteceram durante a degustação.
Deserto des Agriates
Depois da degustação de vinhos, seguimos em direção à Saint Florent, onde passamos o dia anterior e de onde proseguimos rumo à Île Rousse. Logo depois da cidade tem início do Deserto dos Agriates, uma imensa região árida de vegetação rasteira que percorremos quase em zigue-zague, como fizemos ao longo das pequenas estradas corsas. Existe a possibilidade de fazer passeios de carro pelo deserto com empresas locais, além de acampar e fazer a trilha do deserto pelo litoral, que dura cerca de 4 dias. Fica pra uma outra ocasião, no nosso caso.
L’Île Rousse
Assim que a estrada começou a descer a colina em direção ao mar e o porto se desenhou no horizonte, sabia que a hora da despedida se aproximava a grandes passos. O azul do mediterrâneo contrasta com a faixa de areia branca em Île Rousse, o que pra mim foi uma surpresa, pois imaginava que somente no sul da ilha iria encontrar praias assim. Decidimos que nossa proxima chegada seria ali, no porto da partida, e que dispensaremos ao menos um dia completo pra conhecer a cidade numa ocasião futura, e que não tarde tanto a chegar.
O porto fica bem ao lado da ilhota de coloração vermelha que deu nome à cidade. Nos juntamos à fila de carros para embarcar. Em silêncio, ganhamos o interior no navio. Depois de dispor nossos pertences na cabine, fomos direto à ponte, como se alguém nos aguardasse no porto pra se despedir da gente. Ninguém nos esperava, apenas a paisagem no horizonte. Era dela que nos despediamos. Era dos 5 dias anteriores, intensamente desfrutados, agradavelmente vividos, repletos de lembranças preciosas e de momentos inesqueciveis. Quando o navio deixou o cais e à medida que a cidade encolhia no horizonte, foi com lágrimas nos olhos que me despedi dessa bela ilha, num até logo que espero não tarde a acontecer.
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O vermelho da ponta do nariz denuncia o choro derramado ao ver a ilha se afastar no horizonte |
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