Duas primaveras

postado em: Vida na França | 3

Português/Français
Há exatos dois anos desembarcamos na França. Na babagem, trouxemos expectativas e sonhos, anseios e desejos. Antes de vir reunimos amigos e família pra compartilhar risos e projetos, estreitar os laços antes de aumentar a distância. Na sala de embarque do aeroporto deixamos lágrimas de até logo pra família, sentimos aperto no coração, frio na barriga. 


No aeroporto em Paris, enquanto esperávamos o voo pra Marseille, ouvimos uma explosão e em seguida a comunicação da administração que informava que tratava-se de uma mala abandonada que foi explodida, procedimento padrão tomado pela segurança nesses casos. Naquele dia eu não entendi nada, não falava francês, e o inglês ficou praticamente initeligível com a distorção do auto-falante. Não senti medo, mas tomei um susto.

Chegamos à noite no aeroporto em Marseille. Fomos hospedados por franceses, que me ajudaram a romper a barreira do idioma. Em menos de duas semanas, consegui fazer uma compra sozinha usando praticamente o francês que aprendi nesse pouco tempo, e contando com a compreensão e boa vontade da vendedora, que diante da minha dificuldade me ajudou, recorrendo ao inglês. A boa vontade de muitos me ajudou a aprender mais, a me comunicar melhor, a descobrir detalhes e curiosidades sobre a cidade e região onde moro. 

Escolhemos apartamento, carro, móveis, tudo. Transformamos cômodos vazios no nosso cantinho, nos habituamos ao pequeno espaço do apartamento, demos nosso toque pessoal e construímos um lar. Nos adaptamos à uma cozinha pequena, geladeira idem, criamos um padrão pras compras de supermercado. A rotina de instalou gradativamente.

Vieram os passeios, as viagens, as decobertas, as novas amizades. Novos lugares, novas experiências, aprendizado constante. Cada edifício conta uma história, e uma parte da história que faz parte somente do que lemos em livros de escola integra o cotidiano: as guerras mundiais não foram esquecidas. Cada cidade tem um monumento que homenageia os mortos na guerra. São dois feriados no ano consacrados à lembrar desse período devastador, que os monumentos, os edifícios, as homenagens não deixam passar em branco e cair no esquecimento um período triste da história. Aqui se respira história. 

Mas também se respira admiração por novidades e valorização do trabalho local. E férias. Ah, as férias e os franceses, um caso de amor! Férias de inverno (de uma a duas semanas) pra ir à montanha esquiar, férias da natal, férias de primavera (duas semanas na faculdade, pra finalizar os trabalhos!), e as esperadas férias de verão, quando a maior parte dos franceses fecha suas casas e transporta família e animais de estimação (infelizmente nem todos o fazem) em “moto-home” pras destinações escolhidas. 

E os dossiers? A vida é um dossier: médico, veterinário, visto de permanência, pra ingressar na universidade… Enfim, este último foi composto de documentos que não imaginei precisar: meu histórico escolar de ensino médio. Ora, se tenho diploma universitário no Brasil, necessariamente tive o diploma de ensino médio, não? “Mademoiselle, você precisa incluir o documento no dossier.” 

Validei meu diploma brasileiro, ou seja, ele virou diploma francês. Fui aceita no mestrado. Voltei pra cadeira de faculdade. Rotina universitária: bandeijão, milhares de livros emprestados, aulas e trabalhos, apresentações, projeto, estágio. Enfim, aquela rotina que vai me garantir pelo menos meia dúzia de cabelos brancos na época da defesa da monografia, uma no final do primeiro ano, outra no final do segundo ano. 

No quesito atividade física alguns esportes entraram na lista: bicicleta e ski (snowboard pro Bernardo). A corrida continuou, inclusive pra melhorar o preparo físico pro ski, mas também aliviar todas as tensões do dia-a-dia. Correr no inverno, vencer a preguiça e encarar o frio. Correr na primavera, sentir os perfumes que exalam das flores e ervas. Correr no outono, apreciando as cores da minha estação favorita do ano. E é  o passar das estações que marca agora minha forma de ver o tempo passar, e hoje completamos duas primaveras na França, recheadas de experiências e descobertas!

Deux printemps
Il y a deux ans nous débarquons en France. Nous avons des rêves et des expectatives, des souhaits et des aspirations. Avant de venir nous avons réuni les amis et la famille pour partager des bonnes moments et nos projets, renforcer les liens avant d’augmenter la distance. À l’aéroport avant l’embarquement nous avons laissé des larmes, dit “à bientôt” à la famille, senti un pincement au coeur, eu des papillons dans le ventre.

Dans l’aéroport à Paris, pendant qu’on attendait le vol pour Marseille, le bruit d’une explosion s’est fait entendre, suivi d’une explication de l’administration, qui informait s’agir d’une valise abandonnée qui ils dû faire exploser, tel procédure étant adoptée dans ces cas. Mais ce jour-là je n’avais rien compris, je ne parlait pas un mot de français, et l’anglais parlait au micro était incompréhensible. Je n’avais pourtant pas eu peur, mais n’était pas à l’aise non plus.

Nous sommes arrivés le soir à l’aéroport de Marseille. Nous avons été hébergés par une famille française qui m’a beaucoup aidé à franchir la barrière de la langue. En moins de deux semaines j’ai réussi à faire du shopping toute seule en parlant le peu de français que je savais, et comptant sur la compréhension et la bonne volonté de la vendeuse, qui face à ma difficulté à certains moments à fait appel à l’anglais. La bonne volonté de beaucoup de gens m’a aidé à apprendre plus, à me communiquer, à découvrir certains détails et curiosités de la ville et région où j’habite. 

Nous avons choisi l’appartement, la voiture, les meubles, tout. Nous avons transformé les pièces vides à notre style, habitués aux petits espaces de l’appartement, donné notre touche personnel et créé un “chez nous”. Nous nous adaptions à la petite cuisine, au petit frigo, nous trouvions notre façon de faire les courses. La routine s’est installé petit à petit.

Ensuite viennent les balades, les voyages, les découvertes, les nouveaux amis. Nouveaux endroits, nouvelles expériences, une constante apprentissage. Chaque édifice raconte une histoire, et une partie de l’histoire qui nous est apprise à l’école dans les bouquins intègre le quotidien ici: les grandes guerres n’étaient pas oubliés. Chaque ville et village à ces monuments qui rendent hommage à ces morts pendant les guerres. Deux jours fériés sont consacrés à remémorer cette triste période qui les monuments, les édifices, les hommages ne laissent pas passé inaperçue. Ici on respire l’histoire.

Mais aussi on respire l’admiration par le nouveau et la valorisation du travail local. Et les vacances. Ah, les vacances et les français, une histoire d’amour! Vacances d’hiver (entre une et deux semaines) consacrées à la montagne, vacances de Noël, vacances du printemps (deux semaines à la fac, pour finir le rapport et le mémoire!), et les vacances d’été, si attendues, quand la plus part des français part au camping avec la famille, à la mer, en montagne, n’importe où, ils partent. 

Et les dossiers? La vie est un dossier: médical, vétérinaire, séjour, pour la vie scolaire… Enfin, ce dernier était composé de documents qui je ne pensais plus avoir besoin: une attestation équivalente au bac. Or, si je suis déjà titulaire d’un diplôme de psychologue au Brésil, ça veut dire que j’ai passé l’équivalent à mon bac là-bas, non? “Mademoiselle, vous devez le présenter sinon votre dossier est incomplet.”

J’ai validé mon diplôme brésilien, maintenant j’ai une licence française de psychologie. Et je suis en master. De retour à la fac. Routine universitaire: le R.U., la B.U., les cours et les dossiers, les exposés, le stage, le mémoire. Enfin, cette routine qui va me garantir au moins une douzaine de cheveux blancs vers le jour de soutenance, une en M1, l’autre en M2. 

Et pour ce qui est des activités physiques quelques sports ont intégré la liste: vélo et ski (surf pour Bernardo). La course à pied en fait toujours partie y compris pour améliorer ma condition physique pour le ski, mais aussi pour décompresser un peu des tensions de tous les jours. Courir en hiver, battre la paresse et faire face au froid. Courir au printemps, sentir les parfums des fleurs et des herbes. Courir à l’automne, en appréciant les belles couleurs de ma saison préférée. Et ce sont les saisons qui marquent maintenant ma façon de voir le temps passé, et aujourd’hui nous comptons deux printemps en France, pleins d’expériences et de découvertes!

3 Responses

  1. ArthurFrançaBrasil

    Olá Natalia Itabayana, tudo bem?

    Bom, antes de mais nada, gostaria de parabeniza-la pelo belo post que escreveu quando você e seu marido completaram dois anos de França (duas primaveras). Eu e minha esposa nos identificamos muito com ele, com vocês (se vocês permitirem é claro), e com cada uma das suas palavras, especialmente "… a vida é um dossie …" e aqui acrescentamos "… adoçada com rende-vous…"

    A nossa situação aqui na França é muito parecida com a de vocês. Estou acompanhando minha esposa que veio fazer o Pós-Doc e para diminuir a distância e ajudar meus familiares e amigos a entender melhor como é tudo isso, resolvi fazer um blog.

    A minha esposa chegou ao seu blog, através de um blog de moda que ela sempre que pode acompanha. Acho que você descreveu a região da Provence no blog de moda, algo assim.

    Outra semelhança, é a fotografia.
    É que minha família é uma família que sempre trabalhou com fotografia, eu já sou da 3 geração. Sempre estive próximo da fotografia mas sempre como curioso, e agora que tenho tempo e um cenário totalmente diferente, acho que vou comprar uma Nikonzinha (como diria meu avó e meu pai) e sair fazendo uma fotos por ai.

    A principal diferença é que estamos em Grenoble somente a 3 meses.
    Mas era, isso, gostaria realmente de parabenizar pelo post de registrar o quanto nos identificamos com ele.

    Abraço e boa jornada.

  2. Natalia Itabayana Junqueira de Mattos

    Oi Alexandre! Bienvenu!

    Eu ja escrevi sobre a região pra dois blogs de moda no Brasil, e sou colaboradora em um terceiro blog sobre o assunto, mas neste escrevo sobre coisas de mulher, mesmo!! Esse aqui é meu espaço pra partilhar um pouco dessa nossa aventura na terra do Asterix, um pouco sobre o dia-a-dia, costumes, mudanças de habitos, algumas tão naturais que pensamos termos sempre agido desta forma, outras mais determinadas pelas contingências, sem falar na maratona burocratica que acaba fazendo parte da rotina.

    Aos poucos encontramos algumas ocupações, e acho que a fotografia é sem duvidas uma das melhores que podemos ter num lugar onde esbarramos o tempo todo em monumentos historicos que encheram paginas e paginas dos nossos livros de escola! Vocês estão numa região bem bacana, vizinhos dos Alpes, perto da Italia e da Suiça!

    Podem ter certeza de que, mesmo com os contra-tempos eventuais, a experiência é incrivel!

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