A cidade mais antiga da França ganhou recentemente uma atração novinha e com linhas bem contemporâneas, o MuCEM, Museu das Civilizações da Europa e do Mediterrâneo. Inaugurado dia 7 de junho de 2013, o museu é estrategicamente localizado à beira-mar, no ponto de encontro entre o Porto Velho (Vieux Port) e o porto novo, o maior porto do mar mediterrâneo. Essa união entre passado e presente parece ser o fio condutor do Museu e das exposições que ele abriga: o edifício de concreto em si parece um grande emaranhado de fios, e liga-se ao Forte Saint-Jean, cuja construção teve início no século XII (tendo sido reforçado até o século XVII), por uma ponte igualmente de concreto. A magia da visita ao lugar começou tão logo nos aproximamos dele: esta passarela entre contemporâneo e antigo já serve de introdução ao tema abordado através das exposições propostas no museu.
À direita, Villa Méditerranée, ao centro Fort Saint-Jean, e à esquerda, J4.
Aproveitamos o primeiro domingo do mês, quando a entrada na maioria dos museus na França é gratuita, para visitarmos o MuCEM. O entorno do museu ainda tem algumas obras sendo finalizadas, mas o conjunto é espetacular: o pavilhão branco em forma de meio arco é a Villa Méditerranée, concebida para abrigar exposições temporárias e para servir de centro de convenções e encontros entre os vários interlocutores da região. Duas possibilidades de percurso são propostas na Villa: o percurso simples no Belvédère, no andar superior, e o nome já nos dá um bom indício do que iremos encontrar ao chegarmos no fim das escadas: uma bela vista do Mediterrâneo e da esplanada que fica ao redor do museu. E lembre-se de olhar pro chão: a transparência em alguns pontos nos permete ver o mar aos nossos pés, sem nos molharmos. O acesso ao Belvédère e à exposição permanente é gratuito, basta retirar o ticket no balcão de recepção; quanto às exposições temporárias, a tarifa integral é de 7€, a reduzida de 5€ (jovens de 18 a 26 anos, pessoas acima de 65 anos, portadores de deficiência), e gratuita para menores de 18 anos, acompanhantes de pessoas com deficiência.
A vedette do MuCEM fica por conta do pavilhão J4, como é batizado o edifício com arquitetura ousada, como um grande paralelepípedo de renda de concreto que abriga a riqueza cultural dos povos mediterrâneos. Projetado pelo arquiteto Rudy Ricciotti, o mesmo responsável pelo impressionante Pavillon Noir, o templo da dança em Aix-en-Provence, a proposta é não privar o visitante da vista privilegiada que a localização do edifício proporciona. O J4 abriga exposições permanentes e temporárias, e por conta do grande número de visitantes que se encontravam no local no dia da nossa visita, optamos por entrar na fila para uma das exposições temporárias, “Noir et Bleu”, que retraça a história das trocas e batalhas entre os povos que habitam os diversos lados do Mediterrâneo: invasões árabes, invasões napoleônicas, miscigenação cultural, comércio e efeitos nefastos da ambição de uma minoria que ocupa o poder. A escolha não foi feita ao acaso: o título da exposição me intrigou, e o conteúdo não deixou a desejar, ao contrário, deixou com vontade de voltar e examinar com cuidado redobrado os detalhes que porventura foram negligenciados.
Réplica da Rosetta Stone
“O negro seria no homem o senso do inumano do qual ele participa” – Annie Le Brun
Passarelas na parte externa do J4
Terraço do J4 onde fica o restaurante
Terraço
J4 visto do Fort Saint-Jean
Num dado momento da exposição, paramos para assistir ao trecho de um filme em que o personagem corre pelas ruas de cidade devastada pela guerra, onde os cidadãos correm em sentido contrário ao seu. Ele parece perdido, e os cidadãos me deram a impressão de correm não se sabe pra onde. Num dado momento, ele começa a perguntar aos que passam “Estou em Sarajevo?”. A sensação de sideração que eu sentia ficou ainda mais intensa, e me veio imediatemente à lembrança um livro que a escola incluiu na nossa lista de leitura, quando eu tinha talvez uns 12 anos, “O diário de Zlata”, publicado em 1993, um ano após a eclosão da guerra que arrasou seu país. Zlata é dois anos mais velha que eu, e o relato dos horrores que ela presenciou em Sarajevo me marcaram profundamente, e olha que li o diário há uns bons anos. A exposição termina em torno de uma curiosa mesa espelhada e desforme, com cadeiras completamente diferentes umas das outras. A mesa representa o mar Mediterrâneo, e as cadeiras simbolizam os diferentes povos banhados por suas águas. As exposições temporárias podem ser visitadas no J4 até 6 de janeiro de 2014, com exceção da exposição “Présentée Vivante”, que vai até dia 31 de dezembro de 2013.
Depois da visita, resolvemos percorrer as passarelas externas que cercam o pavilhão, e a impressão proporcionada pela caminhada em meio à renda de concreto que embrulha o prédio é o resultado de um trabalho cuidadoso de planejamento e que proporciona um efeito interessante: para todos os lados onde olhamos, ora temos a impressão de que o que vemos é emoldurado pelo concreto, ora a impressão foi de estar submersa olhando pra fora d’água e vendo com o efeito produzido pela luz na ondulação da superfície, mesma impressão que tive quando observei a parte do cima do prédio em continuidade com o mar. Além das galerias com exposições, o J4 conta com uma livraria no térreo e um quiosque de petiscos, e no topo um restaurante oferece serviço contínuo, é um belo lugar para um drink, um almoço ou um jantar (o acesso após o fechamento do museu é feito pelo elevador no térreo). O restaurante também conta com um café que fica no Fort Saint-Jean, atravessando a passarela que une os dois pontos.
Pátio do Fort Saint-Jean
Fort Saint-Jean
Fort Saint-Jean
Escadaria por onde os soldados subiam os canhões no forte
Terminamos nossa primeira visita ao impressionante MuCEM chegando no Fort Saint-Jean: a praça onde fica o café tem um grande jardim mediterrâneo, com oliveiras, lavandas e ervas da Provença cuidadosamente dispostas num terraço que é bem comum vermos pela região do litoral. O trabalho de integração do forte ao museu foi feito à partir de um interessante diálogo entre passado e presente, que pode ser visto na arquitetura: às fundações antigas foram incorporados elementos contemporâneos, ao invés de ter sido feito um trabalho de restauração integral da construção, diálogo que achei bem legal. Outras exposições permanentes e temporárias podem ser visitadas no local, mas acabamos encerrando nossa visita sem explorar essas exposições, sabendo que voltaremos algumas vezes para levar nossos hóspedes ao mais novo museu da cidade mais antiga da França.
Informações práticas:
Acesso pela autoestrada A55 direção Vieux Port, saída no Le Panier (Estacionamento Villa Méditerranée – pago – ou nos arredores, gratuito aos domingos).
Entrada gratuita todo primeiro domingo do mês.
Tarifas e horários: no verão (maio à outubro) aberto todos os dias (exceto terças-feiras) de 11h às 19h (última entrada às 18h15), no inverno (novembro à abril) aberto de 11h às 18h (última entrada às 17h15). Visitas noturnas todas as sextas-feiras até 22h (última entrada às 21h15). Os bilhetes podem ser comprados diretamente no site do MuCEM ou na bilheteria no local. O acesso às partes externas no Forte é gratuito e aberto ao público nos horários de funcionamento do museu.
Boia Paulista
Oi, Nat. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie – Boia
Natalia Itabayana Junqueira de Mattos
Ei Natalie!
Fico super feliz com a escolha, fiquei realmente encantada com o MuCEM e espero que seja incluido em muitos roteiros!
Abraços!