Museu da lavanda de Coustellet

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Certa vez fiz a seguinte pergunta no twitter (aproveita e segue lá @destinoprovence): “Qual palavra você associa à Provença” e grande parte das respostas foi: lavanda. Mas a plantinha perfumada símbolo da região tem seu apogeu por pouco mais de um mês ao ano. Muitas vezes é preciso sorte pra que a temporada atrase ou adiante, em função da época em que se pretende viajar para cá. Em geral o mês de julho é garantia de contemplar os campos floridos e se deliciar com o perfume da lavanda que baila ao gosto da brisa ou do vento, em geral o mistral, que sopra forte por aqui cerca de cem dias ao ano. Mas nem todo mundo consegue programar uma viagem à Provença neste período. Então como fazer pra conhecer um pouco mais dessa beleza se a viagem acontece em outra época do ano? O Museu da Lavanda, em Coustellet, é um passeio delicioso* e cheio de informações ricas sobre a história da lavanda e de seu cultivo, assim como sua utilização em produtos com propriedades medicinais e aromáticas.


O ouro azul da Provença

A lavanda é o símbolo por excelência da região da Provença. À medida que se aproxima a época da floração, todo ano a mesma pergunta é repetida: quando é possível ver os campos no período do apogeu. Importante saber diferenciar os tipos de lavanda da região, pois floração e colheita variam de uma espécie à outra. Essa distinção é o ponto de partida da visita ao Museu da lavanda: a lavanda fina, também conhecida como lavanda verdadeira é quem leva o título de “ouro azul” da Provença, pois seu cultivo é mais delicado e depende de fatores importates, como altitude, clima, solo e forma de plantio, e por isso seu cultivo se dá em menor escala.

Já o lavandin, o híbrido de dois tipos de lavanda, encontrado em altitudes mais baixas, é cultivado em maior escala. São os campos de lavandin os mais fotografados, seus arbustos são muito maiores e mais fotogênicos por serem mais uniformes. Este não é o caso da lavanda fina que, justamente por ser uma planta que se reproduz por meio de sementes, mostra diferenças de um arbusto ao outro.

Além da questão do tamanho dos arbustos – a lavanda fina tem arbustos bem baixos, que não ultrapassam a altura dos nossos joelhos – os arbustos são menos imponentes que os de lavanda híbrida, além de suas flores conterem uma só haste – contra três hastes do híbrido. Outra característica que diferencia as espécies é a altitude onde são encontradas. A lavanda fina só nasce acima de 600 metros de altitude. O híbrido pode ser cultivado inclusive à beira-mar, sendo comumente encontrado em jardins públicos no litoral do mediterrâneo.

Cinco gerações de savoir faire

O cultivo da lavanda fina é feito pela família Lincelé na propriedade do Château du Bois, em Lagarde d’Apt, há cinco gerações, e toda sua produção é destinada à fabricação dos produtos da marca que leva o nome da propriedade familial, e comercializado na boutique do Museu, assim como em outros endereços na Provença e também através do site. Foi em 1991 que nasceu o desejo de criar um museu dedicado à cultura e história da lavanda fina, com o intuito de valorizar e preservar as profissões que derivam dessa cultura, e também de sensibilizar o público quanto à importância econômica envolvida na história da lavanda, que tem um passado interessante, um presente um tanto tumultuado e luta por garantir a preservação de suas notas de nobreza no futuro.

De atividade de tempo livre à atividade econômica

A história do cultivo da lavanda fina na Provença e de sua utilização medicinal é antiga. Podemos situar o início da atividade econômica em torno da lavanda nos arredores do século XVI. Foi nessa época que os alambiques começaram a ser utilizados para destilar o óleo essencial da flor, rico em propriedades medicinais. A lavanda era usada por suas virtudes no tratamento de queimaduras, lesões musculares e picadas de insetos.

A colheita das flores era feita de modo recreativo, principalmente aos domingos, quando as pessoas tinham seus dias livres das demais tarefas da semana e podiam percorrer as colinas em busca das flores roxinhas. Por ser domingo, era costume que se vestissem as melhores roupas, e alguns dos modelos podem ser vistos no acervo do museu. Nessa época, a lavanda colhida era usada para consumo próprio. Cada família destilava o óleo que era utilizado de formas variadas:

  • reduz a irritação e coceira de picadas de insetos;
  • atrás das orelhas combate piolhos;
  • nas têmporas ameniza dores de cabeça;
  • algumas gotas no travesseiro favorizam um sonho tranquilo;
  • gotas na água do banho ajudam a relaxar.

O papel da perfumaria

O grande pulo para o processo de cultivo da lavanda fina em larga escala se deu no século XIX, com o crescimento da indústria de perfumes e o consequente aumento na demanda por insumos. A cidade de Grasse, na Côte d’Azur, conhecida como capital mundial do perfume e onde ainda hoje existem as perfumarias históricas responsáveis por essa evolução, era o destino principal do ouro azul provençal. Ali, a alquimia opera e transforma a lavanda em perfumes cobiçados, pequenas joias líquidas armazenadas em frascos que hoje são dignos de integrarem a categoria de objeto de colecionador, e seguem inspirando muitos frascos atuais.

De pequeno arbusto encontrado aqui e ali nas colinas e à beira de estradas em altitude a grandes extensões de campos cultivados com arbustos alinhados em fileiras milimetricamente distanciadas umas das outras foi um salto que se deu em função da relação oferta e demanda, e a demanda do mercado cresceu vertiginosamente com o advento da perfumaria. Não comente o cultivo pode ser feito em larga escala, como também a destilação se viu dotada de alambiques mais eficientes.

 

Impacto da industrialização

Em meados do século XX, com a fabricação de produtos de limpeza em larga escala, viu-se a necessidade de integrar componentes de perfumaria para mascarar o odor forte dos componentes químicos dos produtos, e a lavanda, do latim lavare, usada na limpeza e perfumaria desde a antiguidade, ganhou novamente destaque, mas seu cultivo delimitado em uma zona geográfica muito restrita – altitudes acima dos 600 metros combinado ao clima e solo específicos da Provença – fez com que se procurasse uma fonte mais rentável de óleo essencial e que pudesse ser cultivada em larga escala.

Foi daí que surgiu o híbrido lavandin, cruzamento entre a lavanda fina e a lavanda aspic, mas sem beneficiar das propriedades terapêuticas das plantas matriz. Por ser um híbrido, o lavandin se reproduz apenas por brotamento. Diferentemente dos arbustos da lavanda fina, seus arbustos chegam a medir mais de um metro de altura. Sua aparência homogênea resulta nos campos roxos tão apreciados dos fotógrafos amadores e profissionais. Essa paisagem também atrai turistas dos quatro cantos do mundo. Pudera! 90% da produção mundial se encontra na Provença.

Do grão ao óleo

A lavanda fina tem origem a partir de grãos ou por meio de brotos cultivados que são plantados geralmente no início da primavera, nos meses de março e abril. É necessário observar um intervalo cinco anos entre o plantio e a primeira colheita das flores para destilação. Um mesmo arbusto é cultivado por um período de cinco anos, sendo que ao final dos dez anos de vida os arbustos são arrancados após a colheita, e queimados, e o campo descansa por um período de quatro a cinco anos.

O cultivo na propriedade do Château du Bois observa a rotação de culturas para manter o solo nutritivo, então pode haver plantação de outras espécies durante o período de descanso após o cultivo da lavanda (em especial cultivo de cereais como sorge e épeautre, um cereal que se assemelha ao trigo).

A colheita acontece entre meados de julho e início de agosto, dependendo do período de floração, e atualmente é feita inteiramente por tratores. No museu é possível ver as roupas usadas pelas pessoas no período de colheita, e parte da vestimenta era usada como medida da quantidade colhida, que era base de cálculo para o pagamento: as mulheres usavam os aventais para juntar os bouquês antes de coloca-los nos cestos, e chegavam a colher quantidades praticamente iguais às dos homens, que carregavam os cestos junto a si. Usava-se foice para a colheita, e os acidentes não eram raros, o que propiciou o surgimento de itens de segurança, como dedais. As foices de vários tamanhos – manipuladas inclusive por crianças – estão expostas no museu. Após a colheita os bouquês ficam dispostos no solo, no campo, para secar antes de serem levados ao alambique, a fim de se extrair o óleo essencial.

 

Colheita atualmente

Hoje o processo de destilação é rápido. Geralmente em uma semana toda a lavanda colhida foi transformada no precioso óleo usado em grande variedade de produtos. O passeio ao museu da lavanda termina com a visita à loja da fábrica, onde encontra-se desde os sachês de lavanda, excelentes para perfumar roupas e armários – espantando traças inclusive – passando por chás, cremes para lesões musculares e produtos cosméticos, até perfumes deliciosos, e visitantes do museu beneficiam de um desconto de 20% nas compras feitas na loja. O Museu da Lavanda em Coustellet é um lugar onde se encontra a lavanda em seu apogeu o ano inteiro!

Não arranque! COMPRE!

Esse é um apelo que vejo de muitos produtores, que colocam placas em seus campos, na beira da estrada. Infelizmente, muitas pessoas arrancam as flores e acabam danificando os campos. Isso também causa grande prejuízo aos produtores, que se vêem desfalcados aqui e ali de pequenas porções de flores que, juntas, representam parte de seu trabalho. Valorize o trabalho do produtor: tire fotos e, caso seja possível, compre seus produtos.

Informações práticas

Museu da lavanda – http://www.museedelalavande.com/

276 Route de Gordes

CS50016 – D2

84220 Coustellet

Funcionamento: Aberto diariamente (exceto 25 de dezembro), fechamento anual no mês de janeiro.

Horários:

  • de fevereiro a abril: 9h às 12h15 – 14h às 18h ;
  • de maio a setembro: 9h às 19h ;
  • outubro a dezembro: 9h às 12h15 – 14h às 18h

Tarifa: 6,80€, gratuito para crianças menores de 15 anos acompanhadas dos pais.

Áudioguia gratuito em português disponível para toda a visita.

 

*Minha visita ao Museu foi uma cortesia que em nada interfere na veracidade da minha opinião exposta neste post. 

Je tiens à remercier l’équipe pour son accueil et pour l’attention qui m’a été porté tout au long de ma visite.

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