Parque Nacional das Calanques, paraíso no mediterrâneo provençal

Ao longo do litoral entre Marseille e Cassis, e estendendo-se até a cidade de La Ciotat, o relevo acidentado de paredões de falésias calcáreas que invadem o azul do mediterrâneo compõe uma paisagem digna de deixar qualquer pessoa de queixo caído em qualquer estação do ano: trata-se do Parque Nacional das Calanques, criado em abril de 2012 depois de quase um século de discussões, projetos e estudos para viabilizar a proteção da área de 8500 hectares terrestres e 43500 hectares marinhos, e este misto de proteção marinha e terrestre faz dele o único parque natural do gênero na Europa.
A partir de julho de 2022, o acesso à calanque de Sugiton só é autorizado mediante reserva antecipada, feita gratuitamente pelo site do parque. A medida vigora até 21 de agosto de 2022.
Assim, o acesso ao Parque pode ser feito por via terrestre ou marítima, com passeios de barco que saem dos portos de Marseille e Cassis e que tem duração variada entre 45 minutos e 3 horas. Sempre escolhemos a via terrestre pra acessar as praias escondidas no meio das falésias, e a escolha é grande: são 160km de trilhas balizadas que podem ser percorridas dentro do parque, e a caminhada é devidamente recompensada, seja com um mergulho refrescante nas águas do mediterrâneo, seja com a vista de uma paisagem magnifíca pra quem escolhe percorrer as trilhas em períodos menos favoráveis ao banho de mar.
Melhor recompensa depois de uma boa caminhada: praia na Calanque d’en Vau

Nossa primeira visita aos calanques aconteceu em 2010, antes da criação do parque e no início da primavera, quando o mediterrâneo é ainda pouco inspirador pra mergulhos e braçadas. E fizemos uma visita rápida, uma primeira descoberta do lugar, em Cassis. Seguimos as placas indicativas de “Presqu’île”, que levam ao estacionamento mais próximo da entrada das calanques da cidade. E seguimos o caminho indicado como Sentier des Princes, onde antigamente existia uma mina de exploração de calcáreo. É possível ver os traços dessa exploração abandonada há tempos, e o produto dali extraído pode ser visto nos portos de Marseille e Cassis, assim como em Nova York, sob os pés da estátua da Liberdade.
Chegando ao final da península, temos a vista pras praias do centro de Cassis, o porto e também o Cap Canaille, a mais alta falésia da Europa. Do outro lado da península a vista é pra calanque de Port Miou, primeira das calanques que tem acesso regulamentado e da qual partem trilhas pras demais, e que vai ser o ponto de referência pro tempo gasto pra chegar nas seguintes que já visitamos: Port Pin e En Vau. Saiba mais sobre as trilhas das calanques neste post.
Calanque de Port Miou (clique nas fotos pra ampliá-las)
Sentier du Prince (no centro) e Cap Canaille (ao fundo) vistos da trilha

Calanque de Port Pin

O caminho que nos leva de Port Miou a Port Pin é relativamente tranquilo, e é bastante comum vermos famílias com crianças pequenas percorrê-lo. Entretanto, é preciso ter em mente que em determinados pontos da trilha precisaremos descer ou subir encostas com pedras um pouco escorregadias, por isso é importante pensar em usar um calçado apropriado e confortável (havaianas e afins são altamente inapropriadas pra caminhada em questão, leve na mochila). A caminhada até Port Pin dura cerca de 40 minutos, e alguns trechos com subidas e descidas podem nos levar a diminuir o ritmo, principalmente quando as temperaturas são elevadas. Se precisar, pare, e aprecie a vista, pois logo após a primeira subida temos um panorama privilegiado da baía e do Cap Canaille. Lembre-se de levar uma boa quantidade de água, pois o último ponto onde poderá encontrar à venda fica na entrada de Port Miou, ou seja, a 40 minutos ou cerca de 1,5km de distância dali.
Descida pra calanque de Port Pin

 

Calanque d’en Vau

Vale à pena caminhar uma hora e meia, descer uma pirambeira praticamente agachados, e pensar na volta pelo mesmo caminho, tudo isso pra ir à praia? Em se tratanto da Calanque d’en Vau, vale levar pra casa hematomas e arranhões nas pernas, com certeza. Nossa primeira tentativa de chegar à calanque foi infrutífera no quesito “mergulho”, pois chegamos ao ponto da foto abaixo, de onde pudemos ver o mar, mas não seguimos em frente por não termos encontrado a trilha certa. Ficamos com belas fotos, e fizemos uma boa caminhada, saindo de Port Pin pelas pedras que ladeiam o mar, uma das duas trilhas possíveis pra chegar à En Vau (significa “no vale”, as falésias são dois paredões imensos que caracterizam esta que considero a mais bela das calanques que conhecemos). Nossa segunda tentativa foi bem sucedidada: além do dia maravilhoso (como podem ver na segunda foto abaixo), o mar estava relativamente convidativo (algo em torno dos 20° pra gente é lucro, depois de uma hora e meia de caminhada ininterrupta).

Início da trilha pra calanque d’en vau saindo do estacionamento de la Gardiole

 

A trilha fácil pra En Vau é a da direita. Pela trilha da esquerda, passa-se pelo mirante, mas a descida pra calanque é difícil

As trilhas são indicadas com traços coloridos e, se nos remetermos aos mapas do parque, podemos nos localizar com facilidade. Mas este não é nosso caso. Não temos mapas do parque. Apenas escolhemos uma cor, e seguimos a trilha. No caso, podemos seguir as trilhas verde, vermelha ou azul, tanto na ida quanto na volta. Nessa tentativa, ignoramos a indicação e nos vimos escalando nosso caminho de volta em pedregulhos que não eram trilha nenhuma pra pedestres, mas pra escoar água de chuva. Ou seja, momento lagartixa (por favor, não faça como nós, siga as indicações e tenha um mapa, o GPS nem sempre funciona porque em alguns pontos da trilha não existe mais sinal de celular – meu GPS usa a rede de celular pra funcionar).

A trilha azul é a mais bonita, pois ela segue a borda das calanques e em vários pontos podemos ver o azul impressionante do mediterrâneo. Na volta, novamente o panorama do Cap Canaille impressiona, principalmente porque desta vez o sol ilumina cada detalhe dos milhões de anos de história do planeta nele registrados. Victor Hugo disse da arquitetura que ela conta a história da humanidade. Concordo. E acho que as falésias contam a história do planeta de uma bela forma, e os geólogos são uns privilegiados por saberem decifrá-la.

Existe outra trilha pra chegar até En Vau, com acesso a partir da estrada que liga Marseille à Cassis. Até uns anos, podíamos estacionar dentro do parque, mas recentemente o acesso ao estacionamento foi fechado e o trecho de cerca de 3k entre a estrada e o estacionamento deve ser percorrido à pé também. Pra chegar até ela, dirija-se ao estacionamento à beira da Route de la Gineste, na altura de Carpiagne. O acesso ao parque pode ficar fechado no período de 1 de junho a 30 de setembro em função do risco de incêndio, a ser verificado na véspera do passeio pelo site oficial do risco de incêndio.

 

 

Calanque d’en Vau vista de dentro do mar

 

Vê aquele paredão ao fundo? É ele que temos que subir pra voltar
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Cara de lagartixa feliz depois de ter chegado ao topo da trilha, ilesos

 

Calanque de Sugiton

A partir de julho de 2022, o acesso à calanque de Sugiton só é autorizado mediante reserva antecipada, feita gratuitamente pelo site do parque. A medida vigora até 21 de agosto de 2022.
O caminho pra Sugiton pode ter dois pontos de partida: Port Miou, ou estacionamento do Technopôle Luminy, em Marseille. Pra ir de Cassis à Marseille de carro, é só seguir a route de la Gineste, uma estrada que tira o fôlego da gente, tanto quanto chegamos em Cassis vindo de Marseille, como quando fazemos o trajeto oposto. Devidamente colocados à entrada do parque ao lado de Luminy, levamos 45 minutos pra chegar no ponto de onde fizemos as fotos abaixo, em maio de 2011, quando o mediterrâneo ta pra peixe, mas não necessariamente pros peixes tropicais que somos nós. Fomos à tarde, e o misto de “o sol ta indo embora” com “a água deve estar gelada” nos desencorajou a descer e tirar a prova da temperatura, mas a vista que tivemos do ponto onde chegamos valeu todo passo dado pra chegar até ele.

 

 

Calanque de Morgeret

Lembra que no início do post falei que o parque é misto, sendo terrestre e marinho? Pois isso faz com que as ilhas do arquipélago de Frioul (onde fica o Château d’If, já leu o post sobre ele?) também tenha calanques, e lá podemos desfrutar da paz insular e da beleza do mediterrâneo. Pra chegar, é só pegar o Frioul Express no porto de Marseille (Vieux Port), e seguir as indicações que nos levam à Morgeret, a caminhada não dura nem 10 minutos quando saimos do barco, e o mergulho vale à pena, os peixinhos vão nos buscar ainda na beiradinha d’água!

 

Calanque de Morgeret

Informações imporantes

  • Para saber como chegar às calanques, leia o post sobre Cassis.
  • Por tratar-se de um parque natural, não existe comércio nas praias (excessão de Sormiou, em Marseille). Por isso, leve seu piquenique e bebidas, e lembre-se de voltar com todo o seu lixo pra cidade.
  • Durante o período estival (de 1 de junho à 30 de setembro) o acesso ao parque é condicionado pelos dados meteorológicos e risco de incêndio (se o vento sopra a mais de 40km/h, acesso proibido). Pra verificar as condições de acesso e circulação ao parque, verifique no dia anterior o site da Prefeitura do departamento de Bouches-du-Rhône que classifica o risco de incêndio em laranja (acesso liberado o dia todo), vermelho (acesso e circulação permitidos entre 6h e 11h, e probido fora desse período) e preto (acesso fechado o dia todo).
  • Um aplicativo pra smartphones chamado My Provence Balade informa a acessibilidade de todas as zonas de proteção do departamento, inclusive as Calanques (disponível no Google Play e Apple Store).
Quer conhecer as calanques sem fazer as trilhas? Há duas empresas em Marseille que oferecem o tour das calanques de barco, com e sem opção de parada para banho de mar!
 

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