Passeios surpreendentes

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Eglise des Saintes Maries
Morando há quase um ano em Aix, na França, obviamente o que vimos até hoje nas nossas andanças de fim de semana pela região foi uma pequena fração de que o país é muito mais que o glamour das boutiques famosas instaladas na Champs Elysées e proximidades, e muito mais do que as praias maravilhosas do Mediterrâneo, frequentadas por famosos de vários cantos do mundo. Paris, por exemplo, nos mostra sua face mais gaulesa quando nos aventuramos pela cripta arqueológica que fica abaixo da Notre Dame e descobrimos as ruínas de uma Lutécia edificada na época em que os gauleses foram pouco a pouco sendo dominados pelos romanos, que deixaram alguns vestígios de sua passagem pela cidade luz.
Sainte Sara
 Aprendemos também que Marseille, a cidade mais antiga da França e segunda do país em termos populacionais, é multicultural desde seu nascimento, há cerca de 26 séculos. Localizada numa região geologicamente acidentada, cercada pelas falésias chamadas de Calanques e que se extendem entre a cidade fócia e Cassis, outra maravilha do litoral Mediterrâneo, a cidade foi inicialmente habitada pelos fócios, vindos da região, então grega e hoje turca, de Foceia e desde então não parou de receber viajantes de passagem e pessoas que decidiram de instalar na região.
Basilique Sainte Marie Madeleine
Fomos do litoral aos Alpes, nadamos e esquiamos, vimos paisagens variadas, cidades lindas pelos caminhos dos nossos passeios, mas um passeio vai ficar marcado na memória por diversos motivos. Quando meus sogros marcaram a vinda pra passarem um mês conosco, disseram que estavam vindo pra descansar, e que não faziam questão de sair viajando pelos quatro cantos do país mas preferiam ficar sossegados, tirar férias de acordar tarde, não saber qual dia é e não ter nenhum compromisso, salvo por um destino em particular no sul da França que tinham recebido muita recomendação de visitar: Saintes-Maries-de-la-Mer. Fui pesquisar sobre a cidade pra entender porquê eles queriam visita-la…
Basilique Sainte Marie Madeleine
Foi lá onde, segundo a lenda (que cabe a cada um, dentro de suas crenças, colorir com o tom que lhe convir), teriam chegado de barco Maria Madalena, Marta, Máximo, Lázaro, Maria Salomé, Maria Jacobe e Sara, apesar da presença desta última na embarcação restar uma dúvida. Expulsos da Palestina depois da crucificação de Jesus, foram colocados num barco sem vela nem remo e o mar os trouxe até esta cidadezinha na bela região da Camargue. Santa Sara, padroeira dos ciganos, tem uma cripta sob a igreja que é principal atração da cidade, além do maravilhoso mediterrâneo. Santa Maria Salomé e Santa Maria Jacobe continuaram por ali, sempre acompanhadas pela serva Sara, enquanto São Máximo e Santa Maria Madalena foram se instalar na região do Var, em Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, onde viveriam até seus últimos dias.

Basilique Sainte Marie Madeleine
A visita à Saint-Maximin foi o último passeio feito com a família e nele fomos acompanhados pelo divertido casal Bruno e Thais. Chegamos pouco depois de meio dia na simpática cidade e fomos agraciados pelo belo dia ensolarado e com céu azul da Provença compondo a paisagem. Impossível não perceber a imponente basílica no coração da cidade à medida que nos aproximamos do nosso destino, basílica que pode ser vista da autoestrada que nos leva à Nice, e que é dedicada à Santa Maria Madalena. Vista do exterior, é uma construção grande, mas sem maiores detalhes; a surpresa fica no seu interior, quando somos acolhidos por uma nave imensa, uma igreja lindamente ornada e então é possível compreender o título de basílica.
O mais surpreendente da visita fica resguardado em uma pequena cripta sob a igreja: as relíquias que seriam de Maria Madalena, bem como seu sarcófago, ao lado de São Máximo, jazem silenciosos e são destino de peregrinação há séculos. Um crânio, de uma mulher mediterrânea que teria aproxidamente 50 anos e datando da época quando teria vivido Maria Madalena é guardado em um relicário, junto com um fragmento de pele que teria sido tocado por Jesus após sua ressurreição. 
Fato ou lenda, mito ou verdade, também cabe a cada um colorir com o tom de suas crenças, mas a emoção que senti ao entrar na basílica é indescritível e inesquecível… Dali fomos subir a montanha em direção à gruta onde ela teria se recolhido para viver os últimos anos de sua vida. Trata-se de uma paisagem impressionante, e a gruta é igualmente fascinante.  A riqueza da floresta que se encontra aos pés do massivo da Sainte Baume (Baume, vem provençal do “baumo” e significa gruta. O fato de Maria Madalena ter vivido na gruta a tornou sagrada e o nome do massivo tem nesse fato sua origem)  é protegida desde o século XIII, inicialmente pelo papa Bonifácio VIII, posteriormente pelos reis da França e atualmente pela instituição florestas francesa. 
Grotte de Sainte Marie Madeleine
Tal como a visita à basílica, o passeio à gruta foi emocionante e suscitou não só admiração pela mulher que ali teria vivido dada sua trajetória e sua fé, mas também bastante reflexão…

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