Retrospectiva 2015

postado em: Vida na França | 23
Primeira viagem do Victor: natal na Suíça
Mais um ano de vida na Provença se termina, e lá vamos nós entrar no sexto ano de vida aqui. Putz, quase seis anos que atravessei a porta de vidro da sala de embarque do aeroporto de Confins, com lágrimas nos olhos, deixando pra trás a mãe aos prantos. Lágrimas de encorajamento, de tristeza pelo fechamento de um ciclo, de alegria talvez por saber o quanto me era caro esse desejo de partir. Hoje, tenho ela do meu lado pra fechar esse ano de 2015 e recebermos juntas 2016.

Esse foi um ano de pouca atividade aqui no blog, não por falta de assunto, nem por falta de tempo, mas por falta de tesão por escrever. Pronto, falei. Em 2015 minha escrita brochou. Me desencantei deveras com a falta de coleguismo crescente na blogosfera de viagem, com a competição infinita por coleção de carimbos no passaporte, com posts no estilo “guia definitivo pra explorar ao máximo os cafundós do judas”. E guardei pra mim os relatos de 3 mega viagens que fiz em 2014, que ainda não desisti de publicar – já até comecei, sobre a Toscana e Ligúria, sobre o Porto e o Tour Viking.
2015 só teve um novo destino na lista: Estados Unidos (eu nunca tinha ido, Bernardo já passou 3 meses a trabalho). Fomos a NY, já fiz um post sobre a viagem, não sei se farei outros porque a cidade não me seduziu. Sou mais de meio de mato, trilha, praia, montanha, sentar em qualquer canto e fazer um piquenique. Mas nem sempre fui assim, já sonhei em ir à NY lá quando tinha meus 18 anos, sonhava com as luzes, o metrô maluco, uma vida estilo “Friends”. E quando finalmente tive a oportunidade de conhecer a Big Apple, percebi que tava mais pro último episódio da série, querendo o sossego dos subúrbios, do que pra badalação das primeiras temporadas.

No Central Park. Foto: Marcella Conti Photography

Talvez seja culpa da idade – percebi que depois que passei dos 30, muita coisa perdeu a graça, e que levo pelo menos 2 dias pra me recuperar de uma noitada que termina por volta das 3 da manhã. Talvez os quase 6 anos de vida na Europa mudaram meus centros de interesse. Em NY, lugares que eu gostei mesmo foram o Central Park e o Museu do Índio Americano, além do Metropolitan Museum e MoMA. Saber que minha pintura favorita do Van Gogh, Starry Night, fica na Big Apple foi um fator decisivo pra viagem. Além de ir encontrar o cunhado, que tava morando lá por conta dos estudos, e amigos queridos. Essa viagem foi também um marco na minha gravidez: na véspera do embarque, senti os primeiros chutinhos do Victor, e no meio da noite, já por lá, senti ele mexer tanto que só poderia ser uma coisa: ele tinha virado e assim ficou até nascer.
2015 foi até julho tomado pelo meu trabalho: eu queria muito trabalhar pelo menos durante um ano depois de validar meu diploma de psicóloga antes de engravidar. Acumulei um ano e meio de trabalho no hospital onde fiz o estágio de segundo ano no mestrado. Fiquei um tanto triste ao encerrar esse capítulo, por me despedir – espero que temporariamente – de colegas que muito me ensinaram sobre uma área de atuação puxadíssima: trabalhei em psiquiatria infantil. Adotei a empatia como chave mestra da minha clínica: empatia pelos pais que sofrem, talvez mais que seus próprios filhos, mas que buscam profissionais pra ajuda-los. Sabe-se lá o custo emocional de abrir a porta de um consultório de psiquiatra infantil, de dizer “não sei o que fiz de errado”.
Aprendi que o medo de errar foi parido junto com o Victor, e perdi as contas das vezes que pedi desculpas a ele. Pela anestesia na hora do parto, que eu tinha imaginado do jeito que foi, mas sem ela; pelo mal jeito no começo da amamentação, por não ter me informado mais antes dele nascer. Passo tanto tempo procurando essas informações agora que sobra pouco tempo pro blog. E falta tesão pra escrever também, não vou negar. O que me encoraja a voltar são os inúmeros comentários de leitores que nem pediram dicas, mas que voltam pra agradecer as informações do blog. Meus olhos marejam de verdade quando recebo, via email, página no Facebook ou Instagram, um agradecimento sincero pelas informações compartilhadas no blog e que ajudaram alguém durante a viagem. Além do coleguismo que não morreu de todo: quando o blog é citado em outros blogs como fonte de pesquisa e consulta pro planejamento da viagem. Essa é minha melhor recompensa. Aos leitores, meu muito obrigada pelo retorno. Aos colegas blogueiros, muito obrigada por divulgar o blog e por acreditar que não se perde leitor ao divulgar trabalho alheio, pelo contrário.

2015 foi um ano com poucas viagens mesmo, mas com encontros legais. Em Paris, encontramos a Renata do Direto de Paris e a Milena do Viver plenamente Paris. Duas pessoas que conheci graças ao blog. Em Aix, conheci o Cléber e o Fábio do Viagens Cinematográficas, e a Dani do Comer e Coçar. Além de ter vivido aquele momento que muito colega blogueiro sempre comentou, e que eu achava que nunca aconteceria comigo. Era 21 de junho, dia da festa da música, eu desfilava o barrigão de 7 meses pelo Cours Mirabeau quando ouço: “você é a Natalia do Destino Provence?” Quase chorei, ganhei meu dia num encontro inesperado com uma leitora, a Lúcia. Fiquei felizona. E meses depois, já com o Victor nos braços, fui encontrar outra leitora, de BH como eu, a Patrícia. Esses encontros me deixaram mega feliz, recarregaram minhas energias e não me fizeram desistir completamente de compartilhar um pouco da Provença, menos pelo blog, mas mais via Instagram e Facebook.
Meus destinos mais comuns em 2015 foram as praias: as calanques enquanto eu ainda aguentava caminhar 9km, Porquerolles e Sainte Croix. Além de me sentir leve boiando no mediterrâneo, ainda refrescava o calor senegalês que fez aqui: sai da maternidade dia 29 de agosto, quando fazia módicos 37°. Tudo que eu queria era uma água de côco gelada. E massagens nos pés.

Quando a família chegou em novembro, me disse que teria tempo pra atualizar o blog porque teria mais dois pares de braços pra dar colo pro pequetito. Mas preferi descansar, curtir os sogros e o bebê. Em dezembro foi a vez da minha mãe chegar, fomos passar o natal em família na Suíça, a primeira viagem de carro do Victor, que encarou os 1400km ida e volta melhor do que imaginei. Achava que ele fosse chorar o tempo todo, que teríamos que parar a cada meia hora pra dar colo. Mas ele dormiu bem na maior parte do trajeto, com boas sonecas de até 3 horas (fiquei boba), e só chorou em alguns momentos depois de paradas pra mamar, se já é uma viagem cansativa pra gente, imagino pra ele, do alto dos seus 4 meses, ter que ficar sentado numa cadeira olhando pra mãe que não pega ele no colo. Porque eu dou colo sempre, colo não estraga bebê. Ele já brinca sozinho no tapete de atividades, posso sentar e escrever enquanto ele brinca com a avó.  Mas veio a vacina dele e meu resfriado na mesma época, e dá-lhe colo.
Escrevo este post entre uma soneca e outra dele, no celular. Antes de publicar, farei a edição final com fotos e links. Porque esse post, como todos os outros, demanda tempo e um certo trabalho. Só não dá tanto trabalho quanto outros porque não preciso pesquisar sobre datas, monumentos, horários e estacionamentos, itinerários e valores de ingressos, datas de eventos ou melhor época pra visitar. Nem ler os blogs dos colegas que serviram referência, e indicar o link. Pra mim, blogar não é algo solitário nem rápido: eu leio outros blogs quando planejo minhas viagens, peço dicas e quando escrevo sobre o lugar, faço questão de linkar os blogs que consultei, seja via Instagram, Facebook ou diretamente no blog. Acho que vale como agradecimento pela informação compartilhada, e acho que ajuda meus leitores a conhecer outros blogs.
Há alguns anos parei de enumerar resoluções de ano novo, e adotei resoluções pra vida. Espero retomar em breve as postagens das viagens de 2014 e terminar as séries iniciadas, e manter o blog minimamente atualizado, com os destinos provençais que visitamos em 2015 e que ainda não viraram post. Desejo a todos um excelente ano de 2016, e agradeço imensamente a companhia ao longo desses quase 6 anos de vida na Provença.

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