Rota da lavanda: Sault, capital mundial da lavanda

Dia desses fiz uma pequena enquete, no melhor estilo “qual a primeira palavra que te passa pela mente quando o assunto é Provença?” e a resposta foi unânime: lavanda. Geralmente nossas visitas aos campos de lavanda da região acontecem quando temos hóspedes em casa: foi assim que perdemos a conta das vezes que fomos ao plateau de Valensole, a maior superfície cultivada de lavanda da região. Mas este ano, nenhum hóspede programou pra nos visitar no verão, uma pena. Mas isso não nos impediu de conhecermos outros campos de lavanda, percorrendo itinerários diferentes da rota da lavanda, e foi assim que visitamos Bonnieux, em 29 de junho.

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Aproveitamos o feriado de 14 de julho que caiu numa segunda feira bem ensolarada e caimos novamente da rota da lavanda, desta vez em direção à capital mundial da lavanda: Sault. Antes que eu pareça me contradizer ao afirmar que Valensole tem a maior superfície cultivada, mas Sault é a capital mundial da florzinha roxa, explico: existem tipos diferentes de lavanda cultivada na Provença, e a planta cultivada em Sault é conhecida como lavanda fina (Lavandula angustifolia), cultivada acima dos 700 metros de altitude, cujo óleo essencial é muito apreciado pelas perfumarias de Grasse (a capital mundial do perfume), enquanto a lavanda cultivada em Valensole, o lavandin, tem utilização funcional: sabonetes, perfumes, e seu cultivo é feito em áreas situadas até 600 metros de altitude (como eu sei? Aprendi tudo isso aqui).

Sault, capital mundial da lavanda

De Aix-en-Provence até Sault são cerca de 90km, que optamos percorrer pela estrada nacional que sempre traz belas surpresas e nos permite conhecer com calma a região. Quando estávamos a cerca de 12km de Sault, os primeiros campos de lavanda deram o ar da graça na beira da estrada, no lugarejo chamado Sarraud. Foi ali que resolvemos estender a toalha e fazer nosso piquenique, à sombra de um pinheiro, no meio do campo de lavanda e com vista pro imponente Mont Ventoux.

Esta foi a paisagem que apreciamos durante nosso piquenique entre lavandas

O Mont Ventoux é ponto mais elevado da região, com 1912 metros de altitude, e recebeu em 2013 uma etapa do Tour de France, vencida pelo colombiano Nairo Quintana, que subiu os 23km em cerca de 50 e poucos minutos. Bernardo fez a subida em 2012 e disse que a inclinação é surreal, a subida é super puxada. Quando assisti o colombiano subir com naturalidade, como se estivesse fazendo uma caminhada tranquila à beira-mar, lembrei do relato do Bernardo: foram 4 horas de subida, água acabou faltando um tempo pra chegar no topo, e pensei que fiz muito bem em recusar o convite pra acompanhá-lo e fiquei dormindo.

Depois do piquenique ao som do mistral soprando forte e espalhando o perfume da lavanda pelos ares, e do zumbido das abelhas ocupadíssimas entre uma flor e outra de lavanda, voltamos pra estrada pra percorrer os 12km mais longos da minha vida. Explico: imagine você dirigir numa estrada onde cada metro proporciona um ângulo diferente pr’aquela foto maravilhosa, e onde depois de cada curva tem uma paisagem de deixar o queixo caído, que te obriga a estacionar toda hora pra contemplar o que os olhos não podem ver por curto tempo. Pois bem, essa é a maior dificuldade de dirigir na rota da lavanda: resistir ao apelo incessante da paisagem pra parar e contemplar. E é por isso que prefiro viajar pelas estradas nacionais, pois nelas temos mais facilidade de desviar a rota, de encostar o carro na beira da estrada, do que numa autoestrada, onde existem sim mirantes (a autoestrada pra Côte d’Azur tem um belíssimo com vista estupenda pra Mônaco, Menton e Itália).

 

 

 

 

Depois de não sei quantas paradas pelo caminho, e de perder a oportunidade de parar no mirante da estrada pouco antes da cidade durante a ida, chegamos ao vilarejo medieval de Sault. A cidade conta com vários estacionamentos, e não tivemos dificuldade em encontrar uma vaga próxima ao centro – lembrando que nossa visita foi feita num feriado e durante o período de floração da lavanda.

Como grande parte dos vilarejos medievais que já visitamos na região, Sault reúne as características que encantam os visitantes: erguida numa colina que tem vista privilegiada pro vale onde a lavanda é cultivada, as casas misturam o estilo provençal, com suas fachadas em tons rosados e declinações de ocre, suas janelas coloridas, ao estilo medieval, com pedras aparentes e torres arredondadas que são vistas com frequência no centro histórico.

Nosso único imperativo do dia era: flanar. E nos perdemos pelas ruelas do vilarejo, percorrendo sem pressa os corredores vazios, encontrando uma galeria de arte aqui, uma casinha com janelas cor de lavanda acolá, uma igreja numa praça charmosa, um museu… ops, a entrada é gratuita! Vamos lá. E a Luna foi bem vinda no único museu da cidade, que pode passar despercebido com facilidade, o que seria uma pena. Pois ali, atrás de uma portinha tímida, com uma plaquinha igualmente tímida convidando os transeuntes a entrar, fica um acervo que nos surpreendeu.

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Além de objetos típicos dos séculos XVIII e XIX principalmente, uma vasta biblioteca com livros e documentos ocupa o salão principal. A sala seguinte é dedicada ao cultivo da lavanda: um alambique e outros objetos de cultivo e colheita antigos estão à exposição, além de fotos de época. Mais uma sala, mais uma riqueza de objetos: moedas antigas, muito antigas mesmo, dos tempos de Alexandre, o grande, até os tempos do franco francês contam um pouco da história através dos símbolos gravados no metal. Mas a maior riqueza do museu fica no último salão: artigos egípcios trazidos por locais que foram ao país na época de Napoleão, durante as campanhas das Pirâmides, no século XIX, e que foram posteriormente doadas ao museu pelas famílias daqueles que participaram dessas expedições. Uma múmia de um sacerdote é sem dúvidas o item mais precioso do acervo, e por si só vale a visita ao despretensioso museu.

Depois da visitinha, continuamos a percorrer as ruas do vilarejo, já caminhando de volta pro carro. Na estradinha, a parada no mirante não escapou durante a volta, e marcou o fim da nossa visita à capital mundial da lavanda.

Informações práticas:

Para obter informações mais atualizadas sobre o estado dos campos de lavanda, entre em contanto com o Office du Tourisme de Sault.
A floração da lavanda acontece geralmente à partir de meados de junho, e a colheita geralmente de 15 de julho a 15 de agosto. Leia tudo que já foi publicado sobre Rota da Lavanda.

 

 

 

 

 

 

 

 

 Rua do Museu, e entrada do museu da cidade. Vale muito a visita.

 

 

 

Esta mesinha ali embaixo também é uma excelente opção pro piquenique

 

 

 

 

Finalmente, a vista do mirante na estradinha

 

52 Responses

  1. Renata

    Olá! Gostaria de saber qual o melhor momento para ir entre essas duas datas: 15 a 13/6 ou 01 a 15/8?
    Obrigada!

  2. ADRIANA LANGER

    Bonjour Natalia! Ameeeei o seu blog! Lindo, super completo e você muito gentil em compartilhar estas informações! Merci
    Estarei chegando, no dia 28/06/2019 em Paris….pretendo pegar um TGV até Aix (seguindo as suas dicas que seria um bom lugar para se ficar como base)….aí surgiu a duvida, consigo pegar o TGV direto no aeroporto CDG até Aix? Desde já agradeço. Obrigada ….bisous!

  3. Cida

    Olá! O blog é fôfo! Tô apaixonada!
    Só consigo chegar a Paris em 14/8 🙁
    Alguma chance de encontrar alguma “sobra” de campos de lavanda de pé?

  4. Felipe

    Oi Natália!
    Tudo bem?
    Muito obrigado pelas dicas do site!
    Conseguiríamos chegar na região de Provence na noite de 10 de agosto desse ano e queremos ir quase que exclusivamente pela lavanda!
    Você acha que conseguiremos? Apesar de ler aqui que os campos de lavanda normalmente tem a colheita até dia 15/08, por volta do dia 11/08 eles já estarão “mais vazios”?
    Muito obrigado novamente!

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