Rota do vinho na Provence: Châteauneuf du Pape

A Provence é uma região rica em sabores, e essa riqueza se extende também aos vinhos. Tendo sido morada dos papas durante quase um século, a região de Avignon é um excelente ponto da rota do vinho da Provence. Seu rótulo de maior prestígio é produzido no vilarejo de Châteauneuf-du-Pape.

Localizado a poucos kilômetros da cidade de Avignon, o antigo refúgio estival dos papas herdou videiras trazidas da Itália na época que o papado se instalou na Provence, entre os séculos XIV e XV. Neste post você vai encontrar informações sobre o vinho, um pouco da história do vilarejo e dicas para preparar um roteiro enogastronômico saboroso em qualquer época do ano.

Châteauneuf-du-Pape: a história do vilarejo

O mês é agosto. Um cortejo deixa o palácio na cidade de Avignon, e segue o curso do caudaloso rio Ródano em direção norte, onde o mais ilustre dos presentes irá ocupar seu lugar de honra no castelo estrategicamente construído no alto da colina, de onde tem-se vista privilegiada pro primeiro castelo. Ao aproximar-se do destino, o cortejo percorre cuidadosamente os vinhedos dispostos ao longo do caminho.

O verão avança, o calor começa a conferir às uvas sua tonalidade avermelhada, indicando que em pouco mais de um mês a colheita vai começar. Estamos no século XIV, o papa Clemente VI ganha seus aposentos no castelo de veraneio no meio dos vinhedos. Bem-vindos à Châteauneuf-du-Pape.

Quer se hospedar aqui? O *Château des Fines Roches* é um hotel e restaurante pertinho do centro do vilarejo

Rota do vinho na Provence

O início da produção do mais nobre dos vinhos provençais remonta à época em que os papas deixaram o Vaticano e se instalaram em Avignon, entre os séculos XIV e XV, mas as primeiras videiras foram plantadas antes da chegada dos pontífices, no século XII. E o cultivo papal teve início sob Clemente V, o primeiro papa de Avignon, e as terras papais contavam 8 hectares na época do papa João XXII, tendo incorporado extensões de terra que pertenciam aos templários, que foram expulsos da região na época.

Em 1500, Nostradamus escreveu sobre a boa reputação do vinho de Châteauneuf-du-Pape, que era exportado na época pra Itália. O vilarejo contava então com cerca de mil habitantes, e cinco séculos mais tarde a população local pouco mais que duplicou. Sim, somente cerca de 2200 habitantes vivem na terra do vinho provençal de maior reputação.

 

 

Visitando o vilarejo em festa

Nosso retorno à cidade aconteceu numa época quente, luminosa, bem diferente da primeira visita há cerca de três anos, num dia cinzento e de baixas temperaturas. O motivo da nossa ida foi a Festa da Véraison, uma festa medieval que acontece todos os anos, no primeiro fim de semana de agosto, e é uma verdade viagem no tempo. A “véraison” é o momento em que a uva muda de tonalidade, perdendo a cor verde e ganhando o colorido do vermelho e do roxo, que indicam que a colheita se aproxima (geralmente em meados de setembro).

Nós chegamos na cidade por volta de 13h de domingo e fomos direto às ruínas do castelo, onde fizemos nosso piquenique apreciando a paisagem cortada pelo rio Ródano. Acabamos indo no último dia da festa pois na véspera havia previsão de chuva de verão, e preferimos adiar para o dia seguinte, uma escolha acertada. Depois do almoço, percorremos as ruas da cidade e aprendemos muito sobre a produção local e cultura do vinho.

O rio Rhône (Ródano em português) e o vilarejo vistos do castelo

 

 

Rota do vinho de Châteauneuf-du-Pape

13 tipos diferentes de uvas compõem os vinhos que possuem a denominação de origem controlada (AOC, em francês) Châteauneuf-du-Pape, sendo que as 4 principais são grenache, shiraz, mourvèdre, cinsault. O controle rigoroso estabelecido em 1937, quando foi adotado o selo de denominação de origem controlada na região (criado em Cassis), vai desde a área cultivada, passando pela triagem das uvas durante a colheita e a quantidade de vinho produzido.

Além disso, o solo também desempenha um papel importante, e na região é comum a presença de solo arenoso e argiloso, pedras calcáreas e redondas. O clima é outro fator crucial, e o mistral é essencial para garantir o sabor dos vinhos: o vento forte e seco que nasce nos Alpes e ganha força seguindo o curso do rio Ródano confere às uvas cultivadas na região um aspecto bastante peculiar, além do sol abundante e das temperaturas generosas durante o verão – termômetro na região pode chegar aos 38°!

 

 

Fête de la veraison : a festa do vinho de Châteauneuf-du-Pape

E o que acontece exatamente durante esta festa? O vilarejo de Châteauneuf ganha ares medievais: barracas de produtos artesanais são instaladas ao longo das ruelas, animações típicas como combates, duelos e demonstrações à cavalo divertem os presentes, e o principal produto da cidade é ganha destaque: os produtores abrem as caves e propõem seus produtos à degustação, tudo isso pela módica soma de 3,50€, valor da taça vendida como passaporte do vinho.
A festa, que em 2020 chega à sua 36a edição, reúne cerca de 30 mil visitantes ao longo de 2 dias e meio de celebrações, além de um desfile introdutório que acontece dois dias antes em Avignon. Os produtos regionais são expostos com orgulho por seus produtores: os saborosos melões da região de Vaucluse, os queijos provençais à base de leite de ovelha e cabra, os deliciosos nougats da região de Montélimar, azeites e, claro, os vinhos Côtes du Rhône e Châteauneuf-du-Pape.
Uma excelente oportunidade para trocar ideias com os expositores e aprender algumas dicas importantes, além de descobrir outros vinhos que são excelentes para o consumo no verão, como os rosés ou brancos, bastante saborosos e perfumados. Eu aprendi, por exemplo, que um ensopado provençal de carne bovina ou uma boa costela grelhada harmonizam bem com o tinto da região.

Quase no fim do dia, pouco antes do pôr do sol, hesitamos em partir, chegamos a ir ao carro – o que me rendeu umas boas fotos do sol baixando perto do castelo – mas acabamos decidindo ficar para assistir ao encerramento da festa, e fomos jantar num dos restaurantes da cidade.

Em ocasiões festivas, é comum os restaurantes optarem por um menu único especial, e foi o caso no dia, o que facilitou bastante a nossa escolha e encurta relativamente o tempo de serviço, nos deixando livres para os compromissos festivos que começaram enquanto degustávamos nossa sobremesa: um desfile de cavaleiros da ordem de São João de Malta desceu a rua principal – justo onde fica o restaurante onde jantamos – carregando tochas acesas e rufando tambores. Sem hesitar, um pequeno cortejo se formou e começou a seguir os cavaleiros, e nos juntamos à pequena multidão, até que chegamos no estádio da cidade. Assistimos apenas o início da cerimônia, quando algumas crianças foram sagradas cavaleiros da ordem de São João de Malta, e pegamos estrada de volta pra casa.

 

Dicas para organizar sua visita à Châteauneuf-du-Pape

Como chegar: Localizada a 90km de Aix-en-Provence, 20km de Avignon e a 10km de Orange, Châteauneuf-du-Pape é facilmente acessível de carro, pela autoestrada que liga Aix e Lyon, e o trem de Paris chega em 3 horinhas à Avignon. Pesquisei os ônibus mas eles funcionam em poucos horários, início do dia e fim do dia, que favorecem o pessoal que mora em Châteauneuf e trabalha em Orange ou Avignon, então o ideal é alugar um carro ou fazer a corrida de táxi.

Onde se hospedar: Avignon é a melhor cidade-base para percorrer a Rota do Vinho de Châteauneuf-du-Pape. Além da proximidade com o vilarejo e a presença da estação TGV onde chega o trem de Paris ou Aix-en-Provence (pra quem chega direto no Aeroporto Marseille Provence), a cidade tem uma boa estrutura hoteleira e opções de restaurantes com preços mais abordáveis que Aix-en-Provence. Veja a lista de *hoteis em Avignon*.

Quem prefere o charme dos pequenos vilarejos, mas não dispensa a proximidade com cidades mais movimentadas à noite, como é o caso de Avignon, as cinco cidades que compõem o território da denominação de origem controlada de Châteauneuf-du-Pape também oferecem opções de hospedagem, e você pode escolher entre se hospedar em *Châteauneuf-du-Pape*, *Courthézon*, *Bédarrides*, *Orange* ou *Sorgues*.

*As reservas feitas através dos links usando o site do Booking.com geram comissão e você não paga nada a mais por isso, mas ajuda na manutenção do blog! As dicas daqui ajudaram no planejamento da sua viagem pela Provença? Então reserve por aqui sua hospedagem!*

Sobre as visitas às caves e degustações de vinhos em outras época:

O Centro de Turismo de Châteauneuf du Pape organiza visitas guiadas com degustação às diferentes caves da cidade. A reserva deve ser feita no local, informações por telefone +33 4 90 83 71 08 (se ligar da França, substitua o +33 pelo 0).

7 Responses

  1. Paula

    Estou há tempos para ir nessa região Natália, e a cada post me convenço mais que preciso ir! Apesar de ter morado na França por 4 anos só conheço Marseille na região PACA e felizmente um pouco mais do Languedoc-Roussillon, PRECISO voltar e passar novamente pela região, beijo!

  2. Natalia Itabayana

    Ei Paula!
    Marseille ja é um belo começo, a cidade é bem interessante, acho que tem atrações bem bacanas e é muito animada! Espero que você possa voltar em breve pra conhecer mais da região, que é surpreendente!

  3. Ana Leda

    Olá Natália, seu post está muito legal e me ajudou a montar meu roteiro de viagem para essa região. Uma dúvida: vou no mês de julho, é necessário fazer reserva para conhecer Châteauneuf-du-Pape?
    Grata

    • Natalia Itabayana

      Ei Ana Leda!
      Não precisa de nenhuma reserva pra visitar o vilarejo! O castelo é uma ruína que tem livre acesso, e é um dos lugares onde se pode estacionar para acessar o vilarejo

  4. RAPHAEL PEREIRA HENRIQUE DORIA

    Olá Natália, será que não dá mesmo para ir de ônibus público de Avignon para Châteuneaf? Pergunto pois de carro não seria muito indicado devido as provas de vinho (pensando na volta). Os pacotes turísticos nós achamos um tanto salgados. Não estou mesmo conseguindo achar na net horários de ida/volta… Grato

  5. Breno

    Bom dia Natália. Tentei entrar em contato com o centro de turismo para saber mais sobre as visitas guiadas com degustação às caves da cidade, no valor de 5€ que você citou mais o link não abriu. Consta como erro. O valor é este mesmo ?? Devo ir no segundo final de semana de agosto . Pena que não conseguirei pegar a festa no primeiro final de semana.

    • Natalia Itabayana

      Ei Breno, o site do turismo foi reformulado e as visitas citadas não estavam mais disponíveis, mas atualizei o link que leva pra informação sobre as vínicolas e caves da região, cada uma organiza à sua maneira as visitas!

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