Seis primaveras à la française

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Primeira vez em Paris com Victor 
Hoje, 25 de março, completamos mais um ano de vida na França, e sempre que paro pra fazer uma retrospectiva desse tempo aqui, me vem em mente a cena de nós dois no avião que nos trouxe do Rio pra Paris, onde tocava repetidamente a música Bad Romance, de uma tal de Lady Gaga que eu nunca tinha ouvido falar antes. Sou tomada pela lembrança do frio na barriga que senti quando o comandante anunciou a decolagem, segurei forte a mão do Bernardo, meus olhos marejaram (sempre o fazem em decolagens, amo voar) e pensei: agora é pra valer, estamos indo embora mesmo.

Relembrando minhas expectativas e sonhos embarcados há seis anos, posso dizer que o caminho percorrido foi longo, com percalços, mas margeado de flores também. Eu finalmente realizaria o sonho de visitar Paris com ele, a companhia que me faltou quando conheci a cidade luz em 2005. Quase desisti de validar meu diploma, mas o fiz, e tive a oportunidade de exercer aqui minha profissão, e espero retomar o exercício em breve – me acordei uma pausa pra cuidar exclusivamente do nosso coraçãozinho, o pequeno Victor que chegou em 2015. “Aproveite, passa muito rápido”, ouvi diversas vezes. E por isso decidi aproveitar, mesmo nem tudo sendo flores, apesar do cansaço que por vezes se abate sobre nós. É cansativo sim, é um desafio permanente, mas vivemos constantemente desafiados quando decidimos empacotar nossos poucos pertences e nos instalar a mais de 10 mil kilômetros de distância de onde nossos umbigos estão enterrados.
A Natália que atravessou o portão de embarque do aeroporto de Confins naquele 24 de março de 2010 ainda mora nesta Natália que escreve agora, mas tanta coisa aconteceu, foi tanto aprendizado, tanto erro cometido, tanta decisão tomada apressadamente, decepções, conquistas, encontros, despedidas que pavimentaram o caminho, choros e risos que forjaram esta que escreve hoje.
Continuo uma preguiçosa inveterada que matava aula de educação física no colégio, mas corro contra essa preguiça. Continuo chata pra comer, mas experimento de tudo pra dizer se gosto ou não – e me surpreendo a cada novo sabor descoberto, inclusive pratos que antes torceria o nariz e acabaram integrando minha lista de aprovados, como tripas e a andouillette, uma linguiça de tripas de porco bem fedorenta, mas muito gostosa. Me abri pra experiências novas, me desapeguei de velhos costumes, e vivo em constante processo de desapego de hábitos e pensamentos que nada acrescentam e só drenam energia.
Étretat
Comemoramos esses 6 anos de vida aqui na França descobrindo mais uma bela região deste país que elegemos como nossa casa: viemos conhecer a Normandia, nossa segunda viagem com o Victor, mas a primeira em que nos hospedamos em hoteis (e descobri que é fácil achar hospedagem que aceite bebê e cachorro) e fazemos os trajetos de trem com ele. E continuamos viajando leve: são 2 mochilas pra 9 dias, uma só pra ele. O carrinho ficou no porta-malas do carro lá em Aix, é no sling que carregamos ele pra todo canto. 
Descobrimos, aos poucos, como conciliar nossa paixão por viagens com os cuidados com nosso pequeno e a Luna, fazemos pausas estratégicas pra que ele saia um pouco do sling, e visitamos mais do que estava previsto. Espero passar pro nosso pequeno a mensagem que ele pode fazer o que quiser, ir onde quiser, respeitando seus limites. Se, um dia, ele decidir voar pra longe de onde o umbigo dele está enterrado, iremos conduzi-lo ao aeroporto, como nossos pais fizeram conosco, e desejar que ele tenha uma experiência rica em aprendizado. O umbigo fica onde nasceu, o coração depois elege o lar. O nosso, elegeu o mundo.

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